11/02/12

O Fim da Inocência - Parte X


Queres vir connosco para a cidade mais linda do mundo, Lau?

Laurinda estremece com a pergunta. Sem saber muito bem como, a sua cabeça acena que sim.

- Óptimo!!! Vais adorar Chefchaouen. É uma cidade modesta e de boa gente. Vais-te dar lá muito bem.

– disse-lhe Pedro, enquanto continuava a falar de forma entusiasta.

Meia atónita, Laurinda continua a acenar, sem na realidade, estar já a ouvir muito bem o que Pedro lhe diz.

- Vamos, - continuou – vamos avisar o resto do grupo que vais connosco. Eles vão ficar radiantes e, para além disso, mais uma companhia é sempre bem-vinda. Não tarda nada, conheces metade deste mundo!!!!

A partida seria no dia seguinte. Nessa mesma noite, Laurinda não conseguiu dormir. Apenas pensava no seu pai, recordando a sua imagem na cama daquele hospital e no medo que sentiu em perdê-lo. Como estaria ele agora? Não conseguia deixar de pensar em como seria injusto partir desta forma, sem dar notícias…

As horas passaram rapidamente, quase tão depressa como os seus pensamentos. Era já de manhã e, com os primeiros raios de sol, a ideia de ir para Marrocos, cada vez lhe parecia menos interessante.

Voltou-se na cama onde Pedro ainda dormia. Olhou fixamente para aquele homem, que hoje lhe parecia um estranho, longe do homem que a tinha deslumbrado no dia anterior.

Por momentos, fechou os olhos. Tentou dormir um pouco, mas logo foi interrompida por Pedro que, ao acordar, sorriu-lhe dizendo:

- Bom dia princesa! Já acordada?

Laurinda nem lhe respondeu.

- Que se passa Lau? Não dormiste bem?

- Não. Não dormi muito bem. Sabes…

Pedro logo a interrompe, dizendo:


- É normal que estejas ansiosa, mas vais ver que tudo vai correr bem. – disse enquanto lhe beijava carinhosamente a testa.

- Não é isso Pedro. É o meu pai… não posso abandoná-lo desta forma. É uma loucura deixar tudo para trás. Compreendes?

Laurinda lá continuou o discurso, convencendo-se também a ela própria, que a decisão mais sensata seria regressar à sua aldeia, aquela que, ainda há pouco tempo, lhe parecia ser demasiado pequena. A sua vida sempre fora lá e até já sentia saudades da companhia serena das ovelhas.

Assim, sem querer prolongar mais a despedida, deixou Pedro, Évora, e talvez o sonho de ser feliz, para trás. Não havia mais como negar, as saudades de casa estavam a melindrar o seu espírito aventureiro, se é que este alguma vez existiu. Na realidade, tinha era saudades de casa.

Nem se despediu de Violeta, nem do grupo.

Apenas conseguiu dizer:

- Desculpa Pedro... desculpa... – e logo se pôs a caminho de casa.

Na viagem de regresso, Laurinda manteve-se pensativa. Desde a ida ao Porto que uma sucessão frenética de acontecimentos mudara a sua vida por completo. A imagem de Francisco, que julgava ter deixado bem guardada, acompanhou-a todo o caminho, inquietando-a. Só voltou a ficar em paz assim que chegou à aldeia.

A atmosfera em Terras de Miranda era diferente, era tranquilizante e quase mágica. O tempo estava quente. Já se começava a sentir o calor infernal do Verão. De forma tranquila, Laurinda inspirou profundamente na ânsia de sentir novamente aquele ar tão familiar a preencher-lhe os pulmões.

Parecia que nunca tinha saído de lá.

Mas pouco tempo teve para aproveitar este momento pois, ao vê-la ao longe, a Tia Dores correu ao seu encontro:

- Laurinda, filha, o que é feito de ti? Estávamos preocupadíssimos. E o teu pai, pobre coitado…

- O que se passa com o meu pai? – pergunta Laurinda, adivinhando já a resposta - Onde está ele?

- Tem calma filha! O teu pai está novamente no Hospital! O Marco é que o acudiu. Se não fosse ele… não sei, não!

Laurinda tentou segurar as lágrimas, enquanto se dirigia em passo ligeiro até casa.

Atrás dela, a Tia Dores continuava:

- Estão para lá os dois... lá para o Porto. E o Dr. Falcão também foi com eles. Foram ontem à noitinha.

Laurinda correu até ao seu quarto que se encontrava impecavelmente arrumado, pegou num pequeno saco onde enfiou as primeiras peças de roupa que encontrou. E, sem saber mais pormenores, despediu-se da Tia Dores.

-Até já. Vou até ao Porto, ao encontro deles.

E saiu de forma acelerada. Ao longe, ainda ouviu a Tia Dores que, já sem fôlego, a tentava acompanhar:

- Esteve aqui um tal de Joaquim a perguntar por ti...

Mas Laurinda já ia longe.

Céu Sousa

5 comentários:

  1. Pois é, parecia que a nossa Laurinda estava disposta a "perder-se" no mundo mas ainda não foi desta. Talvez ainda não fosse o momento certo... vamos ver o que nos trás essa tal Luisa:)

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  2. Sim, gostei e bastante, da escrita e do desembolvimento da história.
    O Porto esta cidade,mágica e linda
    sempre no horizonte de Laurinda. Será? Não.
    Bom a nossa Luisa nos dirá
    Parabens Céu

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  3. eu nao gostei assim muito do desenrolar... ficou um pouco pelo tedio e medo refugio nacionalista que um pouco poe a historia aborrecida e com menos cor... mesmo assim la veremos se ganha felicidade e saimos da chatinha tragedia portuguesa...

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  4. Gostei muito, Céu Sousa! Até que enfim alguém chama a Laurinda à Razão e a tráz de volta à realidade! Pode ser que agora alguém faça justiça a algo que ficou pendente...

    Dina

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  5. Olá Suzana... Gostei muito de ver que vc visitou meu bloguinho e está seguindo, já estou seguindo o seu. Parabéns, eu (sou uma York) e mamis Lilly (é Jornalista) amamos estar aqui.
    Volte sempre que puder e quiser em nosso bloguinho, será sempre bem vinda. APAREÇA!!!!
    Ótimo final de semana e fica com o Papai do Céu.
    Aus 1000 e Beijos 1000 das suas amigas...

    KIPPY & LILLY

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