22/03/12

O Fim da Inocência - Parte XV


Apesar de tantas perguntas, dúvidas e incertezas, Laurinda deixou-se dormir de novo no aconchego dos braços de Pedro, desta feita num sono calmo, tranquilo e reconfortante.

Com um fio de sol a bater-lhe no rosto, Laurinda acordou demoradamente, num misto de preguiça e reconforto. Como sabia bem aquele sol a bater-lhe no rosto que lhe aquecia a alma e lhe dava certezas. Hoje era o primeiro dia da sua nova vida! Uma vida de aventura, de descobertas, de viagens e de muito amor. Pedro estava ali, com ela e para ela. Para a amar e a fazer sentir-se mulher amada e desejada. Por momentos conseguiu imaginar como seria a sua nova vida e ficou feliz com esta imagem. Queria deixar para trás tudo o que tinha vivido e tudo o que tinha passado e conseguir finalmente ser uma mulher completa e feliz! O mundo estava à sua espera e ela estava pronta para o descobrir!

Queria dar os bons dias a Pedro e roubar mais um daqueles abraços que a faziam sentir-se segura. Tinha acordado mais calma, mais tranquila e com a certeza de que tinha tomado uma boa decisão. Sentia no seu corpo um formigueiro, um desejo avassalador e uma vontade desmesurada de sentir Pedro dentro si novamente. Queria começar aquele dia de sol a sentir as mãos de Pedro a percorrerem-lhe o corpo, os lábios dele a beija-la, a língua dele...

Virou-se para o lado de sorriso nos lábios...

_Pedro?! Pedro?!

Olhou à volta e não viu ninguém. A tenda estava vazia, Pedro não estava ali. Laurinda estava sozinha! Levantou-se de rompante e vestiu-se apressada com a cabeça novamente envolta num emaranhado de questões. Onde teria ido Pedro? Porque teria desaparecido e a deixado ali sozinha sem lhe dizer nada?! De repente, como que por toque de mágica, todas as certezas se começavam a desvanecer novamente...

Saiu da tenda e com um olhar atento e assustado percorreu tudo ao redor. Devia ser ainda cedo porque não se via ninguém na feira e reinava um silêncio ensurdecedor que contrastava com a folia que se sentia ali de noite. De olhos fixos no chão voltou para dentro e sentou-se de novo na esteira tapando-se com as mantas ainda quentes onde tinha dormido com Pedro. Ou será que tinha dormido sozinha? Subitamente todo o desejo em que o seu corpo estava envolto minutos antes desaparecera. Laurinda sentia o seu corpo frio e a cabeça começava a doer-lhe!

Uma avalanche de questões começava de novo a assaltar-lhe os pensamentos enquanto se sentia sozinha e as lágrimas lhe escorriam pelo rosto sem quererem parar. Formara-se um nó na sua garganta que quase a impedia de respirar. De um momento para o outro, Laurinda sentia-se triste, desamparada, distante de tudo o que lhe era familiar.

Toda a vida que teria tido se tivesse ficado na sua terra, na sua casa lhe passara em frente como se de um filme se tratasse. Seria tarde demais? Como a iriam olhar se ela voltasse? O que as pessoas iriam dizer e pensar sobre ela que horas após enterrar o Pai tinha desaparecido sem deixar rasto? Será que Marco estaria disposto a perdoar-lhe? Será que a tia lhe tinha entregado a carta? Que loucura tinha ela feito?


Ao longe começou a ouvir risos e algum burburinho e depressa saiu da tenda na procura de um rosto familiar. Pedro vinha acompanhado por uma jovem de cabelos louros e muito longos, extremamente brilhantes. Tinha os olhos de um azul cristalino, sorriso verdadeiramente perfeito e era repleta de uma beleza que chegava a ser irritante aos olhos de Laurinda. Alheios a tudo o que estava à volta conversavam os dois como se nada mais existisse e Pedro olhava-a com veneração, com desejo, com vontade...

Uma lágrima saltou dos olhos de Laurinda que continuava vidrada a olhar para Pedro e para a sua companhia. De repente, acordou daquele estado de quase hipnose e decidiu regressar à tenda para que os dois não percebessem que já os tinha visto e estava a observar. Já dentro da tenda tentou mentalmente contrariar os seus pensamentos acreditando que de certo era uma amiga do grupo e Pedro queria apenas trazê-la para que conhecesse Laurinda e conversassem sobre a viagem que iam fazer todos juntos. Só podia ser isso!

Quando os dois entraram na tenda, Laurinda já estava sentada na esteira. Olhou para eles e percebeu que Pedro segurava a mão daquela rapariga de forma delicada. E lembrou-se como ele a tinha segurado na noite em que se conheceram...

_ Já acordaste Lau?

_ Sim! Onde estiveste?

_ Fui lá a baixo comprar algumas coisas para a viagem e conheci a Angélica no mercado. Vim mostrar-lhe a feira e a tenda!

_ Olá! - Disse Angélica de sorriso nos lábios!

_ Olá! - Respondeu Laurinda quase de forma inaudível!

_ Não queres ir ter com a Violeta para que te mostre onde podes tomar um banho? - Perguntou Pedro de sorriso rasgado!


Laurinda sentiu que todo o seu corpo gelava. Nos segundos que se seguiram sentiu um misto de revolta e de injustiça. Sentiu-se usada, enganada e percebeu que aquilo não era amor. Pelo menos não o amor que ela queria, que ela tinha idealizado. Pegou nas suas coisas e saiu da tenda sem nada dizer... Começou a descer a rua sem saber para onde ia...

Susana Fonseca

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parabéns Susana pela forma como desenvolveste a história! Já estava na hora de aparecer alguma personagem a dar um abanão à Laurinda. Gostei muito!

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