10/10/12

Madalena dos Olhos Cor de Algas - Capítulo 1



Madalena. Olhos cor de algas. Cabelo longo e liso. Castanho. Uma madeixa fogo caindo sobre os ombros morenos, debruando o decote do vestido lilás.
 
Vendo-se ao espelho, passeia os dedos pelos seios pequenos e suspira o aroma do “coffee woman cream” que, antes e delicadamente, tinha passado no corpo inteiro. Olha o relógio para confirmar as horas. Ainda tem tempo para rever os seus detalhes, antes de Alexandre chegar.
 
Alexandre é grande. Corpo moreno e os olhos a confundirem-se com os dela. Sob o sorriso ainda de miúdo, apesar dos seus trinta e oito anos, ela gosta de encaracolar a ponta dos dedos nos caracóis pretos daquele homem, daquele gajo que, como poucos, tão naturalmente seduz. Pelo sorriso e pelo olhar e pelo corpo de um deus materializado na pele damasco doce.
 
Sabe de cor os meandros da sedução. Do jogo de damas em que de vez em quando faz xeque-mate para, depois, desaparecer na bruma tão facilmente como antes um dia tinha chegado. Porque Alexandre sempre soube como jogar. Tudo na sua vida era milimetricamente controlado, tudo na sua vida era perfeitamente colocado no puzzle do seu quotidiano. Até porque não podia perder a casa de sonho plantada num jardim de amores-perfeitos. E a esposa. Que tão sabiamente, ainda naquela manhã, o tinha mimado com o sumo de laranja, as tostas com manteiga e uma fatia do bolo caseiro que só ela sabia fazer.
 
Mas Madalena é diferente. É a mexida proibida e perigosa. É colega da esposa de Alexandre e trabalham ambas no mesmo escritório de advogados na praça da Invicta. Opostas! Mesmo no local de trabalho. À racionalidade fria e quase matemática da mulher, Madalena é o impulso divertido e emotivo. Se a dona de casa perfeita prefere o clássico do saia-casaco sem sabor, Madalena ousa nos vestidos leves e nos decotes provocadores pintados com colares ou echarpes com perfume a frutos. E Madalena não imagina que aquele homem brincalhão e de sabor a chocolate é o marido fantástico por quem a colega baba no escritório entre um café e os papéis do caso seguinte!
 
São apenas colegas - pensa ele à medida que rompe no pouco trânsito da cidade - Não tinha sido difícil sair de casa. As reuniões do partido eram frequentes e a crise politica e financeira do país obrigava-o às reuniões cinzentas onde se discutia o sexo dos anjos! Por isso, aquela quinta-feira era apenas mais uma noite de um cinzento demagógico. Imiscuía-se no seu pensamento, portanto! Nem amigas são! Justificava-se! E ele teve o cuidado de manter todo o secretismo sobre a sua vida familiar. Mesmo assim, sentia-se inseguro desta vez. Uma mistura de adrenalina e de ausência de bom senso! Mas o fruto proibido é sempre o mais desejado e ele desejava Madalena. O seu corpo pequeno que escalava sôfrego o seu. E os olhos dela! Não esquece que foram aqueles olhos cor de algas que pela primeira vez o fizeram desviar o seu olhar. Geralmente, ele tinha esse efeito com todas as mulheres, mas, com Madalena, foi o oposto. Por isso, logo esqueceu o bom senso!
 
 


Madalena esperava-o sorridente assim que a campainha se fez tocar. A sala minimalista decorava-se apenas com a luz de velas que aromatizavam a canela, e o som calmo de “turn me on” na voz irrepreensível da Nora Jones. Não o deixou falar e arrastou-o para o sofá branco. Dependurada no seu pescoço mordiscava a sua boca. As mãos dele tocavam o vestido lilás curto. Sem pressa no beijo de língua, sem pressa os dedos dele, húmidos, do tesão dela. Depois a camisa dele despida misturou-se com o vestido dela, despido! A música continuava o ritmo dos corpos de ambos. Mais! - pedia ela. E a boca dele desceu o seu ventre e sorveu-a numa lentidão luxuriante. Madalena misturava gemidos e palavras e súplicas. Depois puxou-o para si. A boca dele de odor do sexo dela excitou-a mais ainda. Agora ele estava dentro de si. Submissa na vontade de bicho dele. Macho e fêmea. Misturavam risos e pele. Cheiros e sexo. Esfregavam-se um no outro e bebiam-se numa simbiose perfeita. Parava o tempo o espaço a música. A mistura pura e impura de um elemento químico e complexo só dos dois, ontologicamente inexplicável!
 
Ele exigiu olhar o orgasmo dela na boca e nos olhos de Madalena, impura e perfeitamente sua! Só então se jorrou inteiro na pele dela, perdido em sabores e toques nunca antes sentidos.
 
Madalena sorriu com boca pérfida e trincando a brincar os lábios dele, encaixou-se de novo no sexo ainda duro de Alexandre. Olhou-o intensamente. Num gesto simples retirou a madeixa de cabelo, colada ao suor do seu rosto. Depois acariciou, meiga e dolente, a face de Alexandre e, sussurrando-lhe ao ouvido, disse-lhe entre divertida e maliciosa:
 
- Eu sei quem é a tua esposa…
 
Estela Fonseca

7 comentários:

  1. Excelente. Como poderei fazer para dar seguimento?
    pmsferreira37@gmail.com

    ResponderEliminar
  2. Hum. Esta Madalena vai povoar sonhos, certamente. O Alexandre que se cuide porque, por aqui, vamos esmiuçá-la bem. Parabéns, Estela.

    ResponderEliminar
  3. Madalena a "pecadora" ou não.
    Alexandre, ou me engano ou estás metido em sarilhos
    Muito bom Estela
    Parabéns

    ResponderEliminar
  4. Grande começo. As teias de Sedução de Alexandre afinal têm "pontos falsos". A Madalena é um personagem da Invicta carago ;)

    ResponderEliminar
  5. Muito bem Estela, parabéns por este excelente início. A história já promete um grande enredo!
    Dina

    ResponderEliminar
  6. Um início que promete. Esta história tem pano para mangas e tudo o resto:)
    Parabéns, Estela.

    ResponderEliminar
  7. Os meus parabens, vcs nem páram paa descansar... Estarei ca para vos ler com a alegria de sempre!!! Parabens, Estela. Tenho a certeza que se inicia uma grande história de amor e... desamor! Vou ja ler o que se segue...

    ResponderEliminar

Esperamos que tenha apreciado a nossa escrita e que volte a visitar-nos. Deixe-nos a sua opinião. Obrigado!