28/10/12

Madalena dos Olhos Cor de Algas - Capítulo 3


Eduardo acorda para um novo dia, se assim se pode designar. Afinal não passa de um simples arrastar de horas, maquinado por uma rotina pouco agitada e agnóstica de projectos, na cronologia de um desempregado.

 

Realizadas as tarefas do seu quotidiano doméstico pós-alvorada esquematiza um percurso que se avizinha “mais do mesmo”, café matinal e leitura transversal dos Classificados e Anúncios de Emprego dos jornais do dia, paragem nos CTT para entrega de correspondência, Entrevista no Centro de Emprego e Formação Profissional para se candidatar a cursos co-financiados, visita ao restaurante do pai onde almoça e por horas é ajudante de cozinha, e finalmente a recarga da Aura com um mergulho nas energias positivadas pelos Elfos que vagueiam na Quinta das Lágrimas.

Pega no seu PC e no aglomerado de envelopes que contêm o seu Curriculum Vitae, e coloca-os na mala castanha já roçada e desgastada por um Passado boémio de Vida; Guardara-a desde os tempos em que fora professor de Latim na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Sai porta fora e desce dois lanços de escadas até ao rés-do-chão.

- Bom Dia Sr. Doutor! Como sempre apressado - profere a Menina Lúcia que está a limpar o Hall do prédio - Tenha cuidado que o piso está escorregadio, sou empregada de limpeza, nada percebo de primeiros socorros - graceja sem maldade, ecoando uma soluçante gargalhada que lhe abre o rosto.

Eduardo volta-se para Lúcia e dá-lhe o seu Olhar. Sempre fora assim, Face a Face, Olhos nos Olhos, para ele diálogo nunca foi só palavras.

Depara-se com uma jovem mulher de feições sulcadas pelas intempéries dos anos passados. As profundas olheiras neutralizam o azul dos seus olhos, a pele queimada pelo Sol o brilho da sua tez.

- Lúcia que belo bronzeado. Faz sobressair a cor dos teus olhos - enobrece Eduardo, que gosta de a ver sorrir e pregar rasteiras ao infortúnio do destino.

- Fui de férias para as caraíbas do nosso Norte - diz Lúcia brincando - Estive três semanas nas vindimas no Douro. Hoje em dia temos que aproveitar todos os biscates.

- É verdade, esta maldita crise afecta sempre os mesmos. Vou andando.

- Até um dia destes, Sr. Doutor - “Espero ver-te em breve” pensa para si.

Lúcia vislumbra-se com a silhueta de Eduardo, a simplicidade e seriedade do seu Olhar fascina-a. Ama-o em silêncio, na sua Vida não existem contos de fadas.

Tal como definido depois do almoço foi até aos Jardins da Quinta das Lágrimas, precisava de harmonizar as suas ideias para jamais desistir, e prosseguir.

Perambulou por entre árvores centenárias, ruínas medievais e neogóticas, tanques e regatos, uma irrefutável beleza assombrada pela tragédia que ali tinha ocorrido. O Amor tem duas faces, a Tragédia é uma delas.

O calor das três da tarde estava a fustigar o seu pensamento. Buscou uma sombra, e sentou-se no encaixe das raízes extensas e vigorosas duma das árvores.

Retira da mala o portátil e liga-o. Vai de imediato ao Email para ver se tem miraculosamente alguma resposta ás suas candidaturas a ofertas de emprego.

- Outro dia sem sucesso - suspira em voz alta.

Vai até ao Facebook para esquecer temporariamente o Fado que o tem assistido. Eis que encontra online a Eva.

Ela já se tinha ali pendurado fazia horas, clicava «likes», postava comentários, partilhava pensamentos de elevar o Ego, transparecia Outra que não a Eva dos últimos dias.

- Olá Eva! Há quanto tempo. Nunca te vejo por aqui. És o milagre do meu dia.

 
 
- Eduardo, preciso de Ti. Quando nos podemos encontrar?

- Agora. Vem ter comigo a Coimbra. Estou na Quinta das Lágrimas, e aqui permanecerei à tua espera.

Eva pega no blusão creme, nas chaves do carro e na mala, paga a conta, e sai a passo rápido do café. Eduardo...

 

Marlene Quintinha


3 comentários:

  1. Peço desculpas antecipadas pelo comentário que irei escrever. O nível do texto é bom mas no que diz respeito ao enredo, fica notório que foi escrito um pouco "à pressa" e houve alguma desatenção em relação aos episódios anteriores. No episódio 2, fica mais ou menos implícito que o Eduardo seria uma pessoa em missão em África. Um professor, um padre, um médico, um agrónomo....? Aqui surge-nos como um alegado assistente ou professor universitário (de latim!?) no desemprego!? Desculpem, mas parece que se perdeu alguma coerência de enrendo com estes pormenores.

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  2. Plenamente de acordo com o comentário anterior... no entanto, penso que o fascínio da escrita em conjunto reside no facto de tentarmos sempre "dar a volta" ao texto anterior. Aguardemos pelo seguinte...

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  3. Peço desculpa. É verdade, por motivos pessoais, não tive muito tempo para me dedicar afincadamente à minha parte. Li as outras duas partes, mas não me apercebi que o Eduardo seria alguém numa missão em África. Na minha vida aceito as criticas que me fazem, e com elas é que vou crescendo. Perante isto assumo que está na altura de abandonar esta aventura, as mudanças repentinas na minha vida tornaram-se pouco compatíveis com este projecto. Não queria de modo algum quebrar o enredo, e para que isso não volte a acontecer passarei a ser apenas uma leitora. Peço novamente desculpa, principalmente a quem escreveu as anteriores partes.

    Cumprimentos,
    Marlene

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