Assim
que o avião aterrou na pista do aeroporto internacional Augusto Severo, Duarte
expirou longamente, como se o corpo aliviasse toda a árdua carga acarretada ao
longo dos últimos meses. Agora, ali, na capital do Rio Grande do Norte, esperava
que a sua vida tomasse um novo curso, feito de águas de um azul cristalino.
Volvido
o primeiro mês, passado entre o extenso e dourado areal da praia e os lençóis
do quarto de hotel e as noites de loucura interminável, não necessariamente por
esta ordem, Duarte procurou um part-time, algo que o absorvesse durante algumas
horas, antes que caísse em um qualquer pântano, uma vez que já começava a
sentir-se caminhar sobre areias movediças.
O
Dom Café abriu-lhe as portas, como servente às mesas, entre as dezanove e a
hora do fecho, mas ao fim de dois meses, a astúcia e a discrição de Duarte aos
olhos de Giuseppe, o proprietário, resultaram em uma proposta de sociedade. Daí
em diante, Duarte passaria a gerir o movimento do Dom Café, libertando Giuseppe
para outros negócios um tanto ou quanto ocultos.
Num
ápice, o Dom Café passou a clube noturno de referência, tanto na cidade, como
no estado, sendo frequentado por uma elite do mundo dos negócios e profissões
liberais. Pela primeira vez na vida, Duarte sentia-se ao leme do seu destino,
orgulhoso, ainda que comedido pela recente ascensão, e respeitado no seio
daquela comunidade.
A
estabilidade profissional e emocional despertou em Duarte as primeiras
sensações e impressões de paz e afeto a um lugar e, em particular, às suas
gentes. Esta novidade de pertença levou-o a procurar uma casa, que pudesse
chamá-la sua. Rapidamente, tropeçou naquela. Talvez fosse o porte elegante e
tropical da planta plantada na lateral direita da fachada, que mais tarde
descobriu ser uma mamoneira, que o fez apaixonar-se à primeira vista. Mudou-se
na manhã seguinte.
Anoitecia
e chovia e o cheiro a terra elanguescia e envolvia os corpos em uma voluptuosa
humidade, quando Duarte sentiu a incandescência da voz dela adentrar-se-lhe na
boca de um martini seco. Ao fim de uns minutos, soube ser uma jornalista, ainda
que sob a maquilhagem de acompanhante de luxo, uma vez que investigava uns
rostos ocultos da máfia que, supostamente, frequentavam o Dom Café.
A
sensualidade envolta naquele mistério arrebatou Duarte numa paixão desenfreada,
daquelas que se sabe à partida apenas resultarem num abismo, mas à qual não
resistiu aventurar-se. Somente soube o nome dela no relâmpago do estou grávida
– Patrícia Dantas.
Agora,
depois de mais de dois anos alucinantes, em que se envolveu como intermediário
nos negócios obscuros de Giuseppe com a máfia, a fim de desbloquear qualquer
tipo de informação para a Patrícia, e o medo pela segurança da sua filha,
Duarte decidiu colocar um ponto final em toda aquela trama. Todo o seu fascínio
pela mamoneira, fez com que descobrisse que, além do seu principal produto, o
óleo de rícino, a sua semente é tóxica, devido à presença da ricina. Aquelas
pequenas doses mortais, infiltradas nos cubanos, seriam
decisivas no próximo encontro.
Hélder Magalhães
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