24/11/17

Em Busca da Verdade - Capítulo V

Fotografia © Fátima Ferreira 

Miguel, nunca voltara a casar. Todos os dias sentia a ausência de Gabriela, a única mulher que amara na sua vida. A sua suma alegria, companheira, amante, amiga e confidente. Lembrava-se, como se fosse ontem da primeira vez que a vira.
Tinha sido no campus universitário, em frente à faculdade de Letras, tinha visto aquela rapariga linda, de longos cabelos negros e olhos castanhos, que só mais tarde, mais de perto ele descobriu terem tons de verde esmeralda no meio do castanho, pele muito branca a contrastar com o negro dos cabelos. Linda, alta, uma figura elegante parada com um sorriso nos lábios, como se sorrisse para o mundo. Miguel nunca esquecera essa primeira vez, quando o olhar de Gabriela o viu e aquele cruzar de olhares se deu. Tinha sido uma paixão à primeira vista, um cruzar de caminho, de olhares. Miguel, perdera-se naqueles olhos e passou a fazer sempre o mesmo caminho para se cruzar com ela.
Era um homem, para todos os outros, prático e objectivo sem grandes demonstrações de afecto ou carinho, tímido e reservado, não teve coragem de se dirigir a ela, mas começou a fazer sempre o mesmo caminho para a ver e se cruzar com ela. Teve que ser Gabriela a dizer um:  - Olá, chamo-me Gabriela e tu? A partir desse momento tornaram-se inseparáveis.
Ao contrário de Miguel, Gabriela era uma sonhadora, romântica, comunicativa e alegre, sempre com um sorriso e de gargalhada fácil. Tinha um sorriso e uma alegria contagiantes e Miguel deixou-se contagiar. Tornou-se mais alegre, mais comunicativo, mais leve.
Gabriela era uma brisa de felicidade, um ser de luz, trazia alegria onde quer que chegasse.
Terminaram a faculdade no mesmo ano e casaram, ficando a viver em Lisboa, apesar de Gabriela ser originária de Lagos e Miguel de Aveiro, - Assim ficamos a meio caminho, disse Gabriela.
Os primeiros anos de casamento passaram-se em total lua de mel, felizes os dois, decorando o seu apartamento na Graça, com vista para o Tejo e luz a rodos. Eram felizes, amavam-se e viviam um para o outro.
No verão guardavam sempre férias para irem até Lagos, Gabriela adorava a mãe e aquele mar. Aquele mar fascinava Gabriela, ficava horas a olhar para ele, a ouvi-lo, a cheirá-lo, era como se ele a alimentasse e lhe recarregasse as energias. Miguel nunca se cansava de a ouvir falar naquele mar, na sua beleza tranquila ou tempestuosa
Foi, no ano que engravidou de Sofia que Gabriela descobrira, escondidos no sótão, o diário, as cartas e as fotos antigas. Nesse dia, começou a ler o diário e as cartas, colocou-as por ordem cronológica e a partir daí a história revelou-se para ela e tornou-se numa obsessão. No final dessas férias, Gabriela já não era a mesma e sentiu a necessidade de começar a escrever um diário. Diário esse que escondeu de todos, até de Miguel.
Miguel, após a sua morte teve os diários na mão o antigo e o da sua Gabriela, assim como a carta de despedida que deixara. Nunca tivera coragem de os ler e deixou-os ficar na mala que um dia seria entregue a Sofia. Culpava-se por não ter visto os sinais da obsessão de Gabriela. E, pensava no que iria acontecer a Sofia agora que abrira a mala que a mãe lhe deixara.


Fátima Ferreira

8 comentários:

  1. Wow!!!!! Isto está a ficar cada vez mais empolgante!! Parabéns, Fátima!! Muito bom o teu capítulo!!

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  2. Mais uns "pontinhos" acrescentados à história, que com certeza, terão algumas implicações no sinuoso percurso destes personagens. Vou investigar e para a semana, conto-vos...
    Parabéns, Fatima!

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  3. E às personagens se deu forma física... Parabéns, Fatima

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  4. Porem, o mistério conserva-se... parece até que se adensa.
    Gostei da analogia:
    Lagos e Aveiro, boa escolha de origens; ao Sul, um mar quente, uma mulher fogosa, decidida, bonita. Ao Norte um mar frio, um homem reservado e tímido como a Ria.

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  5. Reparo agora que não passei para aqui o meu comentário ao Cap. V. As minhas desculpas pelo atraso.
    De facto, embora sucinto, o capítulo dá-nos caminho seguro para a continuação da história. O estado civil definitivo do Miguel; o tempo concreto da descoberta do diário, cartas e fotos; o início da obsessão (caminho para uma depressão?); um diário – secreto - que se inicia… um marido a quem tudo passa ao lado…
    Parabéns Fátima Ferreira. Este era o capítulo necessário nesta fase da história.

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  6. Muito bom Fátima, vai dar para perceber agora a tal ligação ao passado que tanto peturbou Gabriela?

    Parabéns Fátima

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