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19/01/18

Em Busca da Verdade - Capítulo XII

Fotografia © Joaquim Henriques 

Sofia ficou gelada e quase sem reação, seguiu os agentes. Eles falavam, ela ouvia ao longe palavras que não escutava e nem lhe interessava saber o que diziam. Isto não pode estar a acontecer. Porque foi ele fazer uma coisa destas? Logo agora que eu já tinha arrumado a cabeça, que a malvada mala já tinha destino e que nem queria saber de mais possíveis novidades…, foi o pensamento que imediatamente lhe assolou o cérebro, após a trágica notícia.
Sim, tinha consciência que era responsável por grande parte do mal-estar existente entre eles. Primeiro tinha sido o facto de não terem filhos, clinicamente comprovado por ser fruto de uma sua incapacidade, e que apesar de ele nunca lhe ter cobrado por isso, era algo que pesara sempre na relação. Nunca conseguira afastar aquela malvada sensação de incompetência, de sentir-se menos mulher, perante um companheiro que sempre assumira querer ter muitos…
Se sempre tivera curiosidade em saber a sua história, de onde viera e desvendar a origem da tristeza do pai, ela só se materializou a sério depois da última confirmação, a derradeira, depois da bateria de testes, ao longo de vários meses, anos até, a que se submeteu para despistar a incredibilidade de não poder conceber.
Agora naquelas frações de segundo em que ainda não entrara no carro da polícia, em que uma mão a ajudava a entrar, fazia-se luz e sentia-se suja por tudo o que fizera o marido passar. A memória gritava-lhe todas as discussões que tiveram, tudo o que lhe chamara e acusara, mesmo depois da confirmação inabalável que as análises provavam.
Também ela queria muito ter filhos, dar-lhes o que não tivera, uma mãe sempre presente! E, durante muito tempo, conforme a gravidez não chegava, acusou o marido disso mesmo, de não engravidar. Ele, reconhecia agora, sempre a acarinhou e apesar de ter o direito de se sentir injustiçado, nunca lhe devolveu as acusações, nem uma vez!
            As lágrimas corriam-lhe soltas pelas faces. A seu lado, uma mulher polícia segurava-lhe a mão e balbuciava palavras de conforto, também elas não escutadas. Neste momento a dor era repartida pela antecipação do que iria ver ou confirmar, e pela tomada de consciência da sua culpa, do egoísmo que a tinham norteado nos últimos anos. Era agora claro que as entradas fora de horas de que ela sempre o acusara eram, em grande medida, culpa sua. Fora ela que não criara motivos para que ele se sentisse bem e tivesse vontade de regressar ao lar.
Tomava consciência que, de facto, nunca tivera nada de substancial para o acusar. Todos, amigos e conhecidos, atestavam a sua idoneidade, lealdade e fidelidade, e até se recordava de ter perdido a amizade da Maria quando esta lhe chamou a atenção para a sua atuação, a injustiça que o estava a fazer passar.
Sim, ele lutara por ela até ao fim. Tantas vezes em silêncio, outras em gritos desesperados, mas sempre sem baixar os braços ou desistir. Contra todos, e principalmente contra aquela mala, a malvada história que sempre se insinuara na sua vida, e entre eles.
Sentiu o carro afrouxar, e pela primeira vez naquela curta viagem, viu o mar que se habituara a mirar, sempre na esperança que ele lhe devolvesse a mãe desaparecida. Tantas vezes se sentara na areia, vendo e sentindo as ondas molhar-lhe os pés e esperando ver sair da água o sorriso que recordava dela. Era uma sensação quase física e não foram poucas as vezes em que se abraçou a si própria, num abraço forte e pungente, onde a mãe lhe gritava a rir, para não a partir… Era ele, o mar, que mais uma vez lhe tirava um ente querido!
O carro parou finalmente e mais palavras foram ditas enquanto a ajudavam, agora a sair. Estava renitente, as pernas tremiam-lhe recusando-se a andar, mas tinha de ser.
- Coragem! – Diziam-lhe.
As pessoas, os eternos mirones, abriam alas e ao longe, a enfermaria da praia tomava dimensão.

     Joaquim Henriques

2 comentários:

  1. Um capítulo escorreito, de introspecção e suspense.
    O que nos reservará a “beira da praia”?
    Vê-se já ao longe um final. Embora não saibamos qual.
    Parabéns Joaquim Henriques.

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  2. Mais uns "pózinhos" que nos ajudam a entender Sofia e um final que já se vislumbra naquela praia. Que verdade nos reservará esse final?
    Parabéns, Joaquim! Gostei.

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