Ainda sem saber o que fazer, Manuela
começou a retroceder em direcção ao taxi, mas quando virou-se para entrar,
tropeçou e com o susto, agarrou-se à porta, deixando cair ao chão sua mala.
O senhor do taxi saiu e deu a volta
ao carro, a perguntar se se havia magoado. Isto passou-se em segundos, mas o
tempo suficiente para Alexandre e Alice virarem o pescoço e notarem sua
presença.
Manuela ainda tentou disfarçar e
esconder-se no carro, mas percebeu que não conseguiria.
Alice, já levantada e recomposta, chamava
por ela.
- Manuela, magoaste-te?
(Se me magoei!? Como não magoar-me,
ao ver o meu ex-marido e a minha outrora melhor amiga juntos, a comprovar que
as minhas desconfianças não foram injustas?)
- Não, Alice, tropecei, mas foi só.
Não imaginava vê-los por cá. Vim a Lisboa trazer D. Adelaide para ver a filha,
deixei-a na casa de D. Lurdes e vim dar um passeio para rever o mar. Não se
incomodem, já estou a voltar.
- Não, Manuela, há muito queria falar
contigo, desde que comecei a entender-me com o Alexandre. Pela amizade que
tivemos, sinto-me na obrigação de te dizer algumas coisas.
- Alice, não tem nada que me dizer...
já estou separada de Alexandre há muito tempo.
- Sim, tenho, Manuela. Não quero que
penses que te roubei o marido de caso pensado. Por favor, senta-te aqui,
precisamos falar.
Alexandre, que até então estava sem
palavras, adiantou-se.
- Manuela, por favor. Senta-te
conosco naquele café. Precisamos esclarecer algumas coisas. Não esperava que
fosse assim, mas desde que recebeste aquela carta com a notícia da herança da
casa da tua tia e partiste, nunca mais pudemos falar-nos.
Manuela então resolveu sentar-se e
ouvir.
Disseram que não tiveram nada no
passado, e que Alexandre, desconsolado com sua partida, passou a conversar mais
com Alice, por ser de Manuela a melhor amiga. Queria entender por que Manuela
tinha partido sem uma conversa, uma explicação. Reconheceu que antes de sua
partida estava mais distante, mais frio, mas eram preocupações com o trabalho,
e que descuidou-se da relação dos dois. Que sabia como Manuela sentia-se
desconfortável em relação ao modo duro e frio de sua mãe. Que deveria ter tido,
na altura, mais cuidado com os sentimentos de Manuela, mas’ que não sabia como
resolver a situação. Depois disse também que, com a proximidade, afeiçoou-se a
Alice, e tinham acabado por entender-se. Não queriam que pairasse sobre eles a
culpa da traição.
Manuela não sabia se acreditava ou
não, mas acabou de ouvi-los com a classe que fazia parte de sua personalidade,
disse que não tinham explicações a dar, já que tanto tempo já se havia passado,
suas vidas tinham mudado, e o passado não havia de voltar. O que estava feito,
feito estava.
Alice ainda tentou pedir a Manuela
que voltassem a ser amigas como dantes, Manuela disse que nada havia mudado,
mas em seu coração, aquela história não estava bem contada.
Definitivamente, eram páginas
viradas. Nada voltaria no tempo, nem a fé e confiança, nem a velha amizade.
Despediram-se, Alice com lágrimas nos
olhos, Manuela com a cabeça às voltas, Alexandre sem saber onde metia as mãos,
todos sem saber a que servira aquele encontro não programado.
Manuela entrou no carro e voltou à
casa de D. Lurdes. Pelo caminho, a refletir, decidiu concentrar-se na sua vida
presente e deixar o passado no seu lugar de direito. O que importava agora era
cuidar da Clarinha. Respirou fundo, recompôs-se e passou a fotografar com os
olhos a paisagem que tanto gostava, mas que, de agora em diante, preferia não
voltar a ver. Despediu-se de Cascais.
Encontrou em casa de D. Lurdes uma
Clarinha sorridente, corada e feliz por ter ao seu lado a amada mãe e a nova
mãe postiça que tão bem a tratava. O sorriso de Clarinha apagou de seu coração
qualquer resquício de sofrimento. Era ela a luz que iluminava sua vida agora,
na missão de fazer por esta pequena o que teria feito por um filho que tivesse
tido a alegria de ter.
***
Antonio, por sua vez, na distante
Aljustrel, pensava em sua Clarinha, que tinha sido obrigado a reconhecer, e nas
tantas mães que agora assolavam-no com cobranças de reconhecimento de
paternidade, mas mais que isso, o que o preocupava e tirava o sono todas as
noites, a ponto de deixá-lo ainda mais desleixado e com o aspecto doentio, era
conversa que tinha tido com o sr. Tenente. O tenente o reconhecera! Ele não
poderia imaginar que depois de tantos anos o encontraria no posto de tenente.
Seu velho amigo de escola, seu companheiro de malandragem nas cabulações às
aulas, nas fugidas para ver as meninas a vestirem-se pelas janelas das casas
mais afastadas, o seu amigo Francisco tinha-se tornado tenente! Francisco
conhecia-o, sabia de suas fraquezas, e, apesar de se terem passado muitos anos,
ainda podia se lembrar dos seus pontos fracos.
E a conversa que tinham tido naquele
malfadado dia não lhe saía da cabeça. Apesar de se dizer ainda seu amigo, de
afirmar que a amizade dos dois era a mesma, António pode perceber que o Sr. Tenente
Francisco não estava para brincadeiras, e não se havia convencido da história
mal contada da busca por um alicate esquecido na base.
António tinha agora que acautelar-se, e muito..
Cuidado António que o Tenente não está para folguedos
ResponderEliminarParabéns, mana Tixa Falchetto.
ResponderEliminarGostei dessa imagem do “triângulo comprometido”.