©Tixa Falchetto |
Todas estas leituras de
cadernos deixam claro que isto era mesmo uma casa de loucos, e já prevejo
tragédias ao fim da costura de todas estas histórias. A cada caderno lido, mais
atiça-me a curiosidade e assola-me a inquietação por saber a que ponto isto
interferiria na minha vida. Ora, apetecia-me mesmo largar tudo e sair dali a
correr. Mas a curiosidade não me deixava... vamos pois ao próximo a ver o que
vem de lá.
Helena
Então, eis-me cá a realizar o sonho de toda uma vida! Desde que nos conhecemos à universidade, o querido Ramón havia-me acenando com a possibilidade deste maravilhoso projeto de estudo dos meandros da mente humana. Juntos, desenvolvemos sérios estudos para encontrar uma maneira de devolver a sanidade às pessoas com os mais disparatados transtornos. E vamos conseguir!
Não sei se terei tempo para estar aqui a escrever tudo o que vejo,
tal a riqueza de material que me cai às mãos! Já nem sequer ponho data, porque
não sei se venha escrever todos os dias. Há dias em que me é necessário estar a
acompanhar as pessoas em suas atividades do cotidiano, e se me ponho a andar
praí com caderno e caneta à mão, posso assustá-los.
... hoje foi dia de receber uma louca narcisista que nunca
teve uma relação sequer, tamanha a adoração que tem por si mesma. Pelo bem dos
estudos e do tratamento, preciso dar a cada paciente aquilo do qual ele ou ela
é feito, pois a intenção é mesmo aproximar-me deles e pô-los desarmados, a ver se
consigo escarafunchar-lhes as mentes...
Não é nada fácil imiscuir-me em seus pensamentos. Por seu exagerado e doentio amor por si mesma
– eu diria mesmo adoração – Cláudia fechava-se em copas e nada deixava escapar
de si. Percebi como olhava com desdém para qualquer mulher, mas que precisava
ser invejada, cobiçada, mesmo desejada. E aos homens, parecia distribuir
migalhas de promessas de luxúria.
... hoje apareceu-me a Amélia, pobrezinha... estava quase a
consegui fazê-la externar alguma emoção, mas, depois de tantas conversas em que
eu percebia que ia a se sentir mais confortável, algo aconteceu que a jogou de volta em seu
profundo abismo... foi depois da chegada do Gabriel, o vaidoso Adónis...
Já este, vem com mais frequência ao consultório. Cheio dum obcecado amor por seu corpo, é de
todos o mais previsível. Anda sempre a lancar-me olhares lascivos, imbuído que
está em seu jogo de conquista. Mal sabe o pobre, meu querido Ramón, que só
tenho olhos pra ti. Mas, trabalho é trabalho, e nós sabemos o que fazer para
destravar a língua destes pobres... e, principalmente, sabemos o rastro de
sangue que este Adónis deixou atrás de si...
Creio que Amélia apaixonou-se por Gabriel. Deve ser por isso
que fechou-se outra vez em copas, depois de lhe ter eu conseguido conquistar a
confiança. Parece perigosa, mas creio ser apenas um passarinho assustado que
nunca teve um ninho. Só precisa encontrar alguém que a ampare, mas não creio
que o Gabriel possa prestar-se a isso, antes temo que a perceba e faça mais uma
vítima, por isso é que o distraio, fazeendo-o crer que tem a minha atenção da
forma que gostaria, mal sabendo ele que estou a prescrever-lhe medicamentos que
aos poucos lhe tirem a força para o mal.
... hoje veio-me novamente a Matilde. Dessa, sim, tenho
receio. Dissimulada, esgueira-se pelos cantos com seu voyeurismo, a espreitar
todos os pacientes, ou melhor, “ocupantes da Pousada”, como sugeriu o querido
Ramón que os chamasse. Impenetrável até mesmo para mim, acostumada que estou a
decifrar as mais tresloucadas mentes. Dela, ainda não consegui atinar com o
objetivo.
Outro perdido é o David... coitado, nada tem de louco. Talvez
nem fique por cá muito tempo, seu problema são antes as carraspanas. De nada nos vai servir para os estudos, a mim
e ao Ramón, a nós só interessam os casos mais extremos de loucuras tidas
incuráveis.
Casal que me incomoda é o Vicente e a Beatriz... ainda não
percebo a troca de papéis em que se apoiam. Só percebo o ódio que Beatriz tem
por seu estúpido marido. Um frouxo que finge ser o macho da relação, mas não
passa de um estorvo. Preciso ainda de algumas entrevistas com a Beatriz a ver
se lhe arranco alguma pista para que aceite ser por ele tratada daquela forma,
quando claramente percebo que quem o domina é ela. Penso que ela vá dar cabo da
vida daquele estafermo em breve tempo.
Não é como o meu Ramón, o gajo.
Ah, Ramón! Sei que temes a minha proximidade com todos estes
homens a olhar-me como um animal a ser abatido, mas hás de convir que, se não
lhes der corda, não fizer o jogo de sedução que eles esperam, poucos resultados
conseguirei com eles. O que tu não sabes
é que ... deixemos de confissões, que não é para elas que cá estou...
Tixa
Falchetto
entranhando-se...
ResponderEliminarBela leitura.Gostei de acompanhar! bjs,chica
ResponderEliminarMaravilhoso episódio! Amei.
ResponderEliminarPerambulando em tapete matizado. [Poetizando e Encantado]
Beijo e um excelente fim de semana.
Lendo com atenção, chega-se à conclusão que a mente da psicóloga é tão perturbada pelo Rámon, que deseja abater como um animal de estimação.
ResponderEliminarEcos de mentes é um capítulo absolutamente fascinante 🐦
Continuem!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Continuo a acompanhar e gostei do que li, aproveito para desejar um bom Domingo.
ResponderEliminarAndarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Segunda-feira continuamos a saga, não é?
ResponderEliminarBoa semana
Cada vez mais interessante!
ResponderEliminarEsta psicóloga parece meio louca também, pelo que percebi...
Boa semana!
Bjo
Belo texto.
ResponderEliminarBom restante de semana.
Gostei do espaço. Estarei por aqui agora.
Jovem Jornalista
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O blog está em HIATUS DE VERÃO até o dia 23 de fevereiro, mas tem post novo. Comentarei nos blog amigos nesse período.
Até mais, Emerson Garcia
Continua intenso e inquietante. Resta-me aguardar o próximo capítulo! Boa semana, amigos.
ResponderEliminarSerá Helena uma infiltrada? Ou…
ResponderEliminarAquelas análises sem caderno nem caneta, fazem dela uma psicóloga ou uma psicótica?
Parabéns Tixa Falcheto. Belo perfil.
Gostei muito desta Helena, que afinal não é o que parece. Parabéns, Tixa!
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