Clô - 7º Dto
- Vizinha! Vizinha Clô, o meu vestido está
pronto? - Ah, é a Estelinha do 6º Dto a gritar da sua janela, quer saber
se o seu vestido está acabado.
Todos os inquilinos do prédio combinaram
reunir-se na garagem, com o intuito de se conhecerem melhor. Festejar é uma boa
ideia, com a qual todos concordaram. A Tixa, a vizinha brasileira que está
sempre a querer reunir todos, já tinha tudo preparado para festejar o Natal,
mas faltavam alguns que iam celebrar o nascimento de Jesus com as suas famílias,
daí que adiamos para o Ano Novo.
As minhas novas vizinhas ainda não sabem o
meu percurso de vida. A Mme Clô, ou seja, eu, grande modista de
Lisboa, disponibilizei-me para confeccionar todos os fatos para esta noitada, mas
sem revelar de onde vinha a minha confiança para realizar tal feito. Sou uma profissional
experiente que tive a melhor clientela na zona onde residia anteriormente, nos
teatros de revista, nas televisões e até em Paris tinha clientes, mas a vida
muda e agora tenho é que seguir em frente. Já terminei todas as obras de
costura para a ocasião!
A vizinha Rosa do 1º Esq., que é cabeleireira,
deu um jeitinho nos nossos cabelos e a Margarida, a mais vaidosa do prédio, comprometeu-se
a fazer a maquilhagem dela e de toda a vizinhança. Só falta chegar o meu
companheiro, mas está quase, quase... Depois que o infortúnio nos bateu à porta
e as cheias destruíram a nossa casa, ele decidiu aceitar uma proposta de
trabalho no estrangeiro, onde irá ganhar um bom dinheiro.
- Sim, vizinha pode vir buscar. – Respondi
à Estelinha, com alegria e vaidade por ter vestido todos com glamour.
Nesta
altura ouço tocar a campainha da porta, o coração bate apressadamente... será!?...
Não, ainda não é quem eu esperava, mas sim a esposa do vizinho Euclides que vem
buscar o seu fato. Entramos em diálogo sobre as artistas de televisão que
ambas conhecemos em Lisboa, as cusquices, as glórias, as invejas e tudo o
mais que lá vivemos. Ela demonstra estar por dentro do assunto, tanto quanto
eu. Demoramos um pouco mais que o previsto e eis que ouço o ranger do
velho e ferrugento elevador, quando a porta se abre, eu olho e deparo-me
com o meu homem... lanço-me nos braços do meu amor, mas o seu abraço
não é o mesmo que tão bem conheço. Sinto um arrepio, está estranho, diferente… algo
se terá passado…
Entretanto na garagem, as crianças já
tinham enfeitado o espaço com balões e fitas coloridas, a festa começava a ter
vida. A Luísa do 3º Dto levou o seu PC para passar a bela música a que nos
habituou. A Fernanda com a sua melancolia sentou-se num canto, mas a Luísa fez logo
saber que ali só queríamos pessoas alegres e divertidas, puxando-a para um pezinho
de dança e seguindo a boa disposição, entraram todos na farra, O vizinho David
era o animador das anedotas, a vizinha das águas furtadas, a outra Fernanda, iria
brindar-nos com uns fadinhos que costumava cantar quando estava com amigos, só
faltava o vizinho argumentista, sempre metido no seu canto, mostrou pouca
vontade de conviver; o Bessa tinha prometido levar umas bombinhas para rebentar
à meia–noite, e mais alguns que ainda não conhecemos; mas…, que surpresa! Nesse
momento, entram, todas ao despique, algumas vizinhas que se disponibilizaram
para os petiscos... a Tixa trazia a feijoada à brasileira que tinha prometido e
a sua vizinha de baixo apresentou o cozido à portuguesa, não querendo ficar
para trás. E o Pedro apareceu com um tabuleiro de passarinhos fritos… hum, que
cheirinho! Quanto aos doces, cada um trouxe o que de melhor sabia fazer.
Logo atrás das iguarias, surge um homem de
fato preto com pulseiras e fio de ouro ao pescoço, que saudou os presentes:
- Boa noite…. há lugar para mais um?
Era o administrador do edifício, que,
depois de se aperceber da festa aproveitou a ocasião para nos pedir o dinheiro
da renda.
O João, que já o conhecia e cá pra nós,
ninguém lhe faz o ninho atrás da orelha, já tinha a relação das necessidades de
cada andar, olhou para ele, mediu-o de cima a baixo e com ar superior
perguntou-lhe se tinha sido convidado, porque no bom viver, a casamentos e
batizados só vão os convidados… e o pagamento da renda é até dia oito.
Foi então que mais uma vez a Luísa salvou
a situação deliciando-nos com mais uma canção do seu reportório.
Mas os constrangimentos ainda não tinham
acabado. O vizinho Euclides e a esposa, que como sempre estavam atrasados,
entravam nessa ocasião e ela logo dirigiu um olhar interrogador ao meu
companheiro. Ele, ao meu lado, tentava disfarçar. Mas eu vi e senti tudo! O que
é que a Benevides sabia do meu homem que eu não sabia?
Clotilde
Morgado Fonseca
Isto está a ficar cada vez melhor... ó, Clides!!! Então a sua senhora já está a arranjar-lhe enfeites???
ResponderEliminarEla é um amor. Faz tudo, literalmente tudo para me ver feliz.
EliminarO Euclides que eu conheço é o oposto.
ResponderEliminarEnfeita outras :))
Só quando elas me pedem muito... e com bons modos.
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