Foto © Paula Madeira Alexandre |
Todos
desapareceram: homens, mulheres, crianças. Tinham sido levados. Restavam eles.
Orionte ajoelhou-se ao lado de uma Laíssa desfeita em lágrimas. Ele mesmo
tentando controlar as que teimavam em rolar pelo seu rosto. Se por um lado, a
sua experiência lhe havia dado a sabedoria suficiente para saber que aquele dia
chegaria, por outro lado a sua visão enquanto avô quase lhe garantira que nunca
isso aconteceria. Nunca com a sua neta. Ficaram ali os dois ajoelhados, como que
parados no tempo, a olharem para as águas do rio sem perceberem que tipo de
água na realidade viam, se a do rio se a dos seus olhos.
-
O que se passou? Para onde foram todos? O que vai ser de nós? Estamos sozinhos
– perguntava Laíssa num misto de tentar entender o que se passara e a espera de
uma resposta. - Nós escapamo-nos porque nos escondemos - respondeu Orionte.
-
Regressemos a casa rapidamente. Não podemos ser vistos - avisou Orionte.
Em
passo acelerado, regressaram à casa de Laíssa. Fecharam todas as portas e
janelas. Não poderiam dar a entender que alguém teria ficado para trás.
Especialmente uma mulher. Sentados no sofá e mais calmos, Laíssa tentava
perceber o que se passara buscando nos olhos e na boca de Orionte as
justificações para o que se passara. Num gesto repentino, Orionte levantou-se e
dirigiu-se para a lareira em frente. Virando-se para o sofá onde Laíssa se
encontrava, começou a sua explicação.
-
Sabes Laíssa, o mundo antigo viu no controle da água, bem essencial e
primordial, uma fonte de poder sobre o resto do Mundo. Como toda a ganância de
poder absoluto exige, teria de haver controle também em outras áreas fulcrais. A
mulher foi a escolhida. Elas sempre assustaram, com o seu poder de influência
sobre as outras mulheres, que era preciso silenciar num mundo que se quer
controlado por homens e as quer utilizar como objecto doméstico e sexual. A
procriação também é controlada por este Governo de ditadores. É essencial
nascerem mais meninos do que meninas para que este controle não se perca. Eu
próprio estive durante anos encerrado num local, uma espécie de harém, e tive
várias mulheres. O meu filho Iosef nasceu de uma delas.
Laíssa
sabia onde ele havia estado. Iosef tinha-lho contado. Ficou algo estupefacta,
ainda que de certo modo já disso soubesse, com o controle exercido sobre as
mulheres. O livro que leu sobre Mary Barra veio-lhe à mente. As mulheres
realmente tinham-se tornado poderosas influenciadoras, daí todo este controle
sobre elas. Por isso é que, até hoje, as poucas mulheres foram pensando que
eram as únicas sobreviventes. Para que não se juntassem e se revoltassem.
-
Eu consegui sair em liberdade – continua Orionte perante uma Laíssa atenta mas perplexa
com tudo o que ouve – porque fiquei velho e já não servia para procriar. Trouxe
comigo o meu filho. Os homens de físico mais forte são libertados para serem
enviados para trabalhar nos campos. Os mais débeis também saem – aqui Laíssa
recorda-se de Iohan. - Os restantes ficam para procriarem, seja pelos meios naturais
ou para fornecerem um banco de esperma que será posteriormente manipulado
conforme os objectivos para os nascimentos: quantas meninas e quantos meninos.
As mulheres férteis têm os filhos. As outras servem para alimentar a libido
das elites governantes.
Laíssa
está completamente abismada com tudo o que ouve. A tentar digerir toda a
informação.
-
É insano! É cruel! É terrivel! - Grita Laíssa. É para esses haréns que levam
todos os que estão em condições de procriarem? A viagem de Rafael? O
desaparecimento de Thays e Myrio? E a Thyara? É uma menina… - diz Laíssa a
olhar para um Orionte de olhos cravados no chão.
Laíssa
levanta-se de um pulo decidido e dirige-se a Orionte que ainda olha o chão. Num
gesto brusco e de força, adquirida nos conhecimentos de Sambo, coloca aquele
gigante direito. Fá-lo olhar para ela, olhos nos olhos, afirmando – vamos
resolver toda esta situação! Orionte percebe a força da atitude de Laíssa e
tenta esboçar um sorriso. O cordão que traz ao pescoço chama a atenção de
Laíssa. Tem a imagem de Gyra, a mulher por quem se apaixonou e que lhe deu um
filho, e da sua neta Thyara. Laíssa repara nele pela primeira vez. Vira as
fotos para ele e convictamente afirma:
–
Vamos fazer isto por elas! E por todas as outras! Por onde começamos?
Paula
Madeira Alexandre
O conto proporciona belo momentos de leitura!!!
ResponderEliminarbj
Muito obrigada. Bj
EliminarGostei de ler. Parece que o conto vai dar uma virada.
ResponderEliminarAbraço e bom fim-de-semana
Muito obrigada. Tem mesmo de dar uma virada. Beijinho e resto de boa semana.
EliminarGostei muito. Vamos esperar a continuação.
ResponderEliminarMuito obrigada. Deixei um grande desafio mas tenho a certeza que a Sónia conseguirá resolve-lo. Abraço
Eliminar"Coisas" da cultura Árabe! O conto tem de "virar", ou não fosse ele, conto. Há que fazer render o "peixe".
ResponderEliminarBom fim de semana.
Infelizmente assim é. Muito obrigada. Bom resto de semana. Abraço
EliminarO conto é envolvente, creio que a virada será bem movimentada.
ResponderEliminarGostei e quero mais!
Abraço e bom findi!
Muito obrigada. Tentei fazer o melhor que pude. Abraço e bom resto de semana.
EliminarInteressante texto, onde parece que o Olimpo quer voltar na forma de filhos.
ResponderEliminarGrande abraço, Paula.
Jorge
Muito obrigada. A situação tem de ser resolvida. Grande abraço também.
EliminarBom dia
ResponderEliminarTexto interessante. Obrigada pela visita ao meu blog, abraços.
Muito obrigada pelas simpáticas palavras. Abracos.
EliminarInteressante e envolvente este belo conto, gostei bastante.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Muito obrigada. Ainda bem que gostou. Abraço e bom resto de semana.
Eliminarbom dia amiga, o texto chama a atenção,
ResponderEliminartanto de verdadeiro transmite, não fossem os acontecimentos tão reais que se sobrepõem aos contos, está muito bem redigido :)
espero não me esquecer de acompanhar :)
bom fim de semana
Angela
Infelizmente o Mundo é assim. Pelo menos neste conto que se escreve, está nas mãos de cada um reverter a situação. Muito obrigada. Continue a acompanhar. Beijinho e bom resto de semana.
EliminarEstou a gostar muito de acompanhar esta história! :)
ResponderEliminar--
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Fico feliz por saber disso. Continue a acompanhar-nos e muito obrigada. Abraço.
EliminarSempre empolgante.
ResponderEliminarParabéns a todos.
Muito obrigada. Este conto conta com excelentes escritores que tiveram a amabilidade de me receber. Continue a acompanhar-nos. Abraço.
EliminarExelente reviravolta. Gostei muito. Parabéns
ResponderEliminarMuito obrigada. Já estava a fazer falta um bocadinho de acção concertada para o desfecho da historia.
EliminarA magia que tu dás contando Contos,
ResponderEliminarTem raízes que te vão fortalecendo.
Cada Post é tão ligado pelos pontos
Como teia frente aos olhos não se vendo.
Beijo
SOL
Gostei muito. Muito obrigada. Beijo
EliminarMuito boa a estrutura da narrativa. Excelente o conteúdo.
ResponderEliminarBeijo
Muito obrigada pelas amáveis palavras. Beijo.
EliminarHoje fizeram-me recordar o filme O Planeta dos Macacos.
ResponderEliminarMuito bom.
Boa semana
Filme que não vi mas que irei fazê-lo. Muito obrigada. Resto de boa semana.
EliminarGrande Laissa, força e determinação, não lhe falta
ResponderEliminarA porta está aberta para acabar tal tirania
Muito bom Paula
Parabéns
Ela é uma mulher de grande força. A tirania tem mesmo de terminar. Muito obrigada. Beijinho.
EliminarConcordo com comentário do Pedro.
ResponderEliminarUm abraço.
Autógrafos Futebol
Muito obrigada. Abraço.
EliminarParabéns à autora, a narrativa é excelente.
ResponderEliminarContinuação de boa semana, caros amigos.
Um abraço.
Muito obrigada. Obrigada e igualmente. Abraço.
ResponderEliminarO texto é muito bom. Adorei ler.
ResponderEliminar* Solidão sentida por uma Ave, cansada. *
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Um dia feliz
Muito obrigada. Um dia muito feliz. Abraço.
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