Foto © Sónia Ferreira |
Laíssa ficou perplexa com tudo o que acabara de ouvir, sentiu um
turbilhão de emoções percorrer-lhe o corpo e a alma. Sentiu-se determinada e,
ao mesmo tempo, impotente para lutar por aquelas mulheres tratadas como reféns
da própria sorte…
Orionte, com os olhos cravados no chão, pontapeava pequenas pedras
que se dispersavam no manto verde coberto de papoilas de frágeis pétalas, mas
com raízes resistentes presas à terra.
Laíssa, mais uma vez, enfrentou Orionte, olhos nos olhos e elevou
o tom de voz:
- Vais levar-me até lá! Quero ver com os meus próprios olhos esse
mundo cruel…
Orionte, calado, abanava negativamente com a cabeça. Era um pedido
demasiado perigoso para uma mulher que, apesar da sua determinação, poderia
tornar-se em mais uma refém naquele harém de ditadura.
Laíssa segurou no braço de Orionte e segredou-lhe ao ouvido:
- Nós vamos pensar numa estratégia para desmantelar este poder
soberbo de governantes desumanos e perversos…
- Vamos jantar e mais logo conversamos sobre este assunto… -
afirmou Orionte, acariciando os ombros de Laíssa.
Rafael aproximou – se de Philipe, subchefe do governante daquela
comunidade para receber orientações sobre a sua nova missão.
Philipe era um homem alto com cabelos negros, tinha olhos grandes,
castanhos escuros desenhados num rosto de barba cerrada, transparecendo um ar
rude.
- Esta é a tua nave para vigiares o que se passa dentro da
comunidade – afirmou Philipe, mostrando com o dedo indicador o novo objeto de
Rafael.
- Começarás por fazer um relatório diário do que se passa na
comunidade, relatando tudo o que observas. Ficarás atento às mulheres,
principalmente àquelas que constam na base de dados, identificadas como “o
futuro da comunidade – F.C.”. Debruçar-te-ás sobre todos os passos destas, para
que não ocorram desaparecimentos. Relativamente às mulheres estéreis, também
estas estão na base de dados rotuladas como “fêmeas infecundas – F.I.” Também é
importante estares atento a estas, pois muitas delas servem para saciar os
desejos sexuais de todos nós que fazemos parte deste governo de elite. –
Philipe terminou, assim, o discurso de boas vindas a Rafael. Entretanto,
esfregava as mãos a pensar em várias F.I. para saciar os seus desejos
voluptuosos e libertinos.
Laíssa, com uma chávena de chá de camomila na mão, aproximou-se de
Orionte, sentou-se no sofá à frente dele e recomeçou novamente o assunto que
lhe estava em mente: salvar aquelas mulheres da promiscuidade daqueles
governantes selvagens.
- Orionte, vamos fazer um mapa, no qual assinalamos os pontos
fortes e os pontos fracos para chegarmos àquele sítio, já que conheces muito
bem essa zona. – Disse Laíssa, com um brilho no olhar semelhante à luz da lua
cheia numa noite escura.
- Tu és esperta e destemida! – Exclamou Orionte com um sorriso
escondido no rosto.
Laíssa largou a chávena de chá sobre a mesa que ainda esfumaçava
um vapor perfumado de camomila, foi buscar um papel grande e duas canetas, com
o intuito de começar a sua aventura…
Abriu o papel sobre a mesa, ofereceu uma caneta a Orionte para que
este começasse a registar o percurso que os levariam àquela selva de mulheres
objetos, presas ao infortúnio do destino e presas fáceis dos desejos
animalescos daqueles governantes de elite.
Orionte começou por desenhar uma encruzilhada de caminhos,
seguidamente registou os respetivos nomes de cada rua.
Laíssa seguia, fixamente, os traços de caneta azul naquele papel
como se já estivesse a percorrer aquelas ruas, a mente dela funcionava como um
GPS: visualizava montes, planícies, florestas e, até mesmo, o harém como se
conhecesse aquele sítio.
Entretanto, Orionte começou a assinalar no mapa os ditos pontos
fortes e os pontos fracos. Os primeiros eram assinalados a vermelho, indicando
zona de perigo; os segundos eram registados a cor verde, evidenciando zonas de
transição e de aproximação ao alvo.
Laíssa deitada no seu leito pensava em Rafael. Já que ele tinha
partido, supostamente, para cumprir outros objetivos, será que ele é aquela
figura estratégica para entrar na comunidade? No cérebro de Laíssa reinavam
várias questões às quais tentava ajustar soluções capazes de desmantelar aquela
rede de governantes arrogantes e prepotentes.
Sónia
Ferreira
O plano de desmantelamento começou. Muito bom, Sónia. Beijinho.
ResponderEliminarPode não ser fácil mas a vontade sendo muita ...
ResponderEliminarGosto do seu jeito de escrever!
bj
E o olhar é lindo!!!
EliminarNão me atrevo a tentar adivinhar o que se segue.
ResponderEliminarBoa semana
De conto em conto, vai um interessante conto!
ResponderEliminarBoa semana.
Olhar d'Ouro - bLoG
Olhar d'Ouro - fAcEbOOk
Muito bom fico à espera do que se segue.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Ótimo conto, Boa tarde.
ResponderEliminarVamos esperar para ver o que vem a seguir. Gostei! :)
ResponderEliminar--
O diário da Inês | Facebook | Instagram
No aguardo do desfecho, que seja breve executável o desmantelamento. Muito bom o conto.
ResponderEliminarAbraço!
ora, tudo a postos. aguardemos! saudações.
ResponderEliminarAguardemos a sequência. Bj
ResponderEliminarFico no aguardo do próximo.
ResponderEliminarAbraço