13/07/11

A Década De Todas As Suspeições - Parte 6



- Um tiro! Meus Deus, o que é isto? - Pensava Susana.

Bem que ela queria gritar, mas a voz não lhe saía.
Susana, atónita e ainda atordoada pelo som do tiro, só pensava em sair daquele lugar, daquela doca do Poço do Bispo. Um lugar tão calmo, nem queria acreditar no que tinha acabado de ouvir.
Desesperada, esqueceu-se do que estava ali a fazer, esqueceu-se do Paulo e do que a trouxera até ali. Só queria fugir, fugir…
Arrancou com a moto a toda a velocidade e só parou à porta de casa. Talvez tenha passado algum sinal vermelho, nem se lembrava…

Susana chegou a casa, toda a tremer. Despiu-se e meteu-se na banheira. Começou a tomar um duche, a água quente a cair-lhe pela cabeça e a escorrer-lhe pelo corpo, sabia-lhe bem, mas decidiu deitar-se um bocadinho na banheira e relaxar, bem precisava, depois daquela noite terrível!

Não conseguia relaxar, só pensava no tiro. Não viu mais ninguém por ali. Quem o deu? O tiro seria para quem, para ela, para o Paulo ou para algum dos dois homens com quem o Paulo se encontrou na doca?

Felizmente que não atingiu ninguém, que ela desse por isso, mas também fugiu tão rápido que nem teve tempo de ver mais nada.

- Espero que o Paulo esteja bem! – Pensou.

Meteu-se na cama e, mesmo com a cabeça quase a explodir, lá conseguiu adormecer.
Dormiu mal, estava preocupada com o Paulo e logo que acordou, agarrou no telefone.

- Olá Paulo, está tudo bem? – Perguntou, com medo da resposta, mas decidiu arriscar, tinha de saber como estava ele.

- Olá Susana, eu estou bem e tu? Estou com imensas saudades de te ver. Temos de nos encontrar, visto que no trabalho não nos temos visto ultimamente.

- Está bem, preciso de falar contigo e também tenho saudades tuas! Vou para o Algarve, para Vale do Lobo, passar uns dias, à vivenda que nós dois alugámos daquela vez que lá estivemos e se quiseres aparecer… - disse ela a brincar. A brincar, mas a pensar Pode ser que ele apareça por lá!

Depois, telefonou também à amiga Isabel, a dizer que ia passar uma semana ao Algarve. Precisava de descansar do trabalho e de ficar longe de Lisboa, por alguns dias.
De seguida, agarrou na moto e foi à redacção da revista entregar a peça e voltou para casa.

Susana alugou uma vivenda à beira-mar, era pequenina e não tinha piscina. Tinha apenas um pequeno jardim e um terraço que dava para pôr uma mesa e quatro cadeiras, uma espreguiçadeira e um chapéu-de-sol. Para que queria ela uma piscina, se tinha um extenso areal e um imenso azul pela frente e todo aquele verde dos campos de golfe mesmo ali ao lado de casa?!

Nesta viagem não levou a moto, trocou-a pelo seu confortável carro e lá seguiu em direcção a Vale do Lobo. Além de ser costume ir ao Algarve de férias, às vezes também lá ia fazer reportagens de torneios de golfe, a Vale do Lobo, a São Lourenço ou à Quinta do Lago. Uma vez foi fazer uma reportagem de um Estágio da Selecção Nacional a Vale do Garrão. Outra vez, foi fazer uma reportagem à Quinta do Lago, com uma figura famosa que tinha lá uma luxuosa vivenda. Fizeram a reportagem a caminho da praia, em cima da ponte de madeira sobre a Ria Formosa. A paisagem é lindíssima e tem uma grande beleza natural.

Pelo caminho, a ouvir música, em cima da ponte 25 de Abril, Susana ia recordando as primeiras viagens para o Algarve, antes de conhecer o Paulo. Ia de barco de Lisboa até ao Barreiro e depois apanhava lá o comboio. Nessa altura ia passar férias a casa da amiga Maria, a Almancil. A Maria era casada com Richard, um Inglês que veio ainda em criança para Portugal, com os pais, nos anos sessenta e instalaram-se no Algarve.

Esta casa era grande, tinha piscina, campo de ténis e uma mata, onde até dava para jogar golfe. Tinham sempre muitas visitas, um hábito que já vinha do tempo dos pais. Os pais tinham lá sempre amigos a passar os fins-de-semana, eram portugueses e estrangeiros. Havia imensas reuniões mas ele, como ainda era criança, não prestava atenção naquilo que as visitas falavam.

Susana recordava o nascer do sol no Tejo. – Era muito bonito visto do barco! – Pensou.

Agora, já só pensava na hora de chegar ao Algarve, desfrutar do sol, estender-se na areia e só ver o céu e o mar, de um azul tão intenso que não a deixavam pensar em mais nada a não ser no Paulo. Será que ele iria mesmo aparecer por lá?

Finalmente chegou, ao fim de três horas, com uma paragem pelo caminho, numa estação de serviço.
Meteu o carro na garagem e descarregou-o. Entrou em casa e foi para a janela ver o mar. Aqui não há rochas e as ondas estão calminhas. Não sabe o tempo que esteve à janela, não deu pelo tempo passar.

Tocaram à porta!
O coração de Susana disparou ao pensar que já seria o Paulo.

- Tão rápido! – Pensou.

Que saudades tinha dele… do seu abraço, do seu toque… que saudades de estarem os dois sentados na praia, mesmo ali em frente, ao pôr-do-sol.

Foi abrir a porta, com um sorriso nos lábios, um brilho no olhar e o coração a bater muito forte.

- Glória!

Susana, ainda incrédula, ficou imóvel a olhar para a porta e para a visita que tinha à sua frente.



Dina Rodrigues

4 comentários:

  1. A cara da Susana, coitada!!! Imagino a decepção... ela que ja se via nos braços do bem amadooo!!! Sonho adiado é ainda mais... desejado!!!...digo eu.

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  2. Obrigado pelos vossos comentários. Ainda bem que o tiro saiu pela culatra, não é muito cedo para começar a matar? As personagens ainda têm muito para dizer! O que eu mais queria era um encontro romântico entre os dois... e a Susana sonhou tanto com isso!... Mas a Glória tinha logo de lá ir estragar tudo! Como diz o comentário anterior, nem tudo está perdido, "Sonho adiado é ainda mais... desejado!". Boa inspiração para a pessoa que se segue!

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  3. Ai, ai, como é que Glória ali foi parar?!

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  4. É. Como é que a Glória foi parar a casa de Susana. Quem vai explicar isso? Hum?? :))

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