08/07/12

Os segredos de Sobreiro Aparado - Capítulo 10

Em frente à janela, Seguro sente o dedo na ferida, ainda aberta. Reconhece que dedicou tempo demais à profissão, em vez de se ter dedicado mais à sua mulher. Deixou-a escapar da sua vida, sem se ter apercebido a tempo de travar essa situação.


Os dois teriam sido muito felizes, se tivesse havido tempo para isso!... - pensou ele.

- Não toques no nome da Salomé! – exclamou Seguro, agora enfurecido com as perguntas da Albertina. - Mulher dos diabos, não desvies a conversa. Quem matou o Zinga e o Octávio?

- Sei lá quem os matou? – respondeu ela, desinteressada do assunto.

Seguro vestiu as calças e a camisa, guardou a arma e sentou-se numa ponta do sofá. Por sua vez, Albertina ajeitou o vestido e sentou-se na outra ponta a pensar no coitado do Tomé.

Como teria sido o acidente com o camião, em Espanha? – pensava ela.

- Não há nada que se beba? – pergunta Seguro, para desanuviar da tentativa frustrada, de saber mais informações sobre a relação dela com o Zinga e o Octávio.

Albertina foi buscar uma garrafa de vinho e dois copos. Despejaram essa garrafa e ela foi buscar outra. Agora, já riam às gargalhadas…
Albertina tombou para um lado e Seguro para o outro e os dois adormeceram no sofá.

Seguro acordou sobressaltado com o telefone, era um telefonema da Polícia Judiciária. Acordou todo torto e com gosto de ressaca. Dói-lhe a cabeça, mas isso agora pouco importava, tinha de ir procurar Albertina. Lembra-se de, na noite anterior, estarem os dois a beber vinho, no sofá. Vai ao quarto dela e fica a observá-la. Ela ainda dorme profundamente. Acorda-a com um beijo na face e com doçura segreda-lhe ao ouvido “ Albertina, és uma mulher livre!”

Albertina acorda, também com dor de cabeça, mas sorri para ele, quando o vê.

- Albertina, és livre para saíres de casa e voltares à tua vida – diz-lhe Seguro.

- Livre? Não, eu não sou livre, eu estou presa a ti, para onde fores, eu também vou! – respondeu ela, mal conseguindo abrir os olhos, com o sol que entrava pela janela.

 - O que queres fazer, queres ir comigo para onde? Eu vou para Lisboa e não sei se volto aqui, para continuar com a investigação.

- E o Tomé, quando é o funeral? – perguntou ela, de volta à realidade.

- Albertina! Tina!

- D. Aldina, o que aconteceu agora? – perguntou Albertina, dirigindo-se à porta.

- Nem vais acreditar – dizia a D. Aldina. – Telefonou-me um primo, que trabalha num hospital em Espanha, a dizer o teu marido está lá internado, que ontem esteve com ele, mas que ele está bem. Depois a chamada caiu e eu não percebi nada. Afinal ele está morto ou não? Vou voltar para a mercearia e se tiver mais novidades, aviso-te.

- Obrigada, faça isso! – agradeceu Albertina, fechando a porta, bastante transtornada.

Seguro, à espreita, ouviu a conversa das duas, já a pensar numa maneira de dar a volta à situação. Ele tinha sido informado de que o Tomé teve um acidente com o camião, em Espanha e de que tinha sido internado, mas hoje, no telefonema da manhã, informaram-no de que ele já tinha tido alta.

Albertina voltou para a sala, em estado de choque. Estaria a sonhar ou a ter um pesadelo?

- O Tomé… não morreu! – exclamava ela.

- Albertina, eu já sabia que o Tomé estava vivo. Ele já teve alta esta manhã e não tarda, está aí a chegar – confessou o agente Seguro.

- Não pode ser, como é possível? Tu disseste que ele estava a ser transportado para o Instituto de Medicina Legal!

- Eu sei, desculpa! Só o disse para te arrancar uma confissão sobre a morte do Zinga e do Octávio. Tudo fazia parte da investigação.

- Eu vou contigo para Lisboa. Eu não quero cá estar, quando o Tomé chegar. Tu não sabes do que ele é capaz, quando souber que tu passaste a noite cá em casa. Ele até é capaz de me matar! Estou farta dele, vou deixá-lo! Ernesto, por favor, não me deixes aqui, leva-me contigo – implorava ela.

Seguro cedeu e concordou levá-la com ele para Lisboa.
O padre, entretanto, também já tinha tido ordens para sair da sacristia.
Tentaram sair despercebidos, mas a D. Aldina, que estava a falar com o padre, à porta da mercearia, viu-os e acenou a dizer adeus.
Albertina, ao passar pela praia de Santa Cruz, insistiu em mostrá-la a Seguro. Aproveitaram e fizeram uma visita rápida à Azenha e a um moinho de vento. Ela queria mostrar toda a beleza da região Oeste, mas não havia tempo para isso.

Seguro chega a Lisboa e é informado de que vai abandonar o caso de Sobreiro aparado e que vai ser transferido para Guimarães. Deve partir no dia seguinte.

Nesse mesmo dia, Tomé saiu do hospital e dirigiu-se a Sobreiro Aparado. Chega a casa e não encontra a mulher. Vai à procura dela e fica a saber que ela tinha ido com o agente Seguro. Tomé, no dia seguinte, parte para Lisboa, vai às instalações da Polícia Judiciária e é informado de que o agente Seguro foi transferido para Guimarães. Enfurecido e cego pela cólera dos ciúmes, Tomé parte, também para lá.


Albertina e Seguro instalam-se em Guimarães. Tudo é novo para ela, que nunca tinha saído dos arredores de Sobreiro Aparado. Ela quer ver tudo e um dia pede a Seguro para ir com ela ao castelo. Assim foi, iam os dois de braço dado, distraídos a ver a paisagem, quando Albertina avista Tomé, encostado a uma parede do imponente castelo, com uma arma apontada a eles.

Albertina dá um grito!


Dina Rodrigues

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