Eduardo acorda para um novo dia,
se assim se pode designar. Afinal não passa de um simples arrastar de horas,
maquinado por uma rotina pouco agitada e agnóstica de projectos, na cronologia
de um desempregado.
Realizadas as tarefas do seu
quotidiano doméstico pós-alvorada esquematiza um percurso que se avizinha “mais
do mesmo”, café matinal e leitura transversal dos Classificados e Anúncios de
Emprego dos jornais do dia, paragem nos CTT para entrega de correspondência,
Entrevista no Centro de Emprego e Formação Profissional para se candidatar a
cursos co-financiados, visita ao restaurante do pai onde almoça e por horas é
ajudante de cozinha, e finalmente a recarga da Aura com um mergulho nas
energias positivadas pelos Elfos que vagueiam na Quinta das Lágrimas.
Pega no seu PC e no aglomerado de
envelopes que contêm o seu Curriculum Vitae, e coloca-os na mala castanha já
roçada e desgastada por um Passado boémio de Vida; Guardara-a desde os tempos
em que fora professor de Latim na Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra.
Sai porta fora e desce dois
lanços de escadas até ao rés-do-chão.
- Bom Dia Sr. Doutor! Como sempre
apressado - profere a Menina Lúcia que está a limpar o Hall do prédio - Tenha
cuidado que o piso está escorregadio, sou empregada de limpeza, nada percebo de
primeiros socorros - graceja sem maldade, ecoando uma soluçante gargalhada que
lhe abre o rosto.
Eduardo volta-se para Lúcia e
dá-lhe o seu Olhar. Sempre fora assim, Face a Face, Olhos nos Olhos, para ele
diálogo nunca foi só palavras.
Depara-se com uma jovem mulher de
feições sulcadas pelas intempéries dos anos passados. As profundas olheiras
neutralizam o azul dos seus olhos, a pele queimada pelo Sol o brilho da sua
tez.
- Lúcia que belo bronzeado. Faz
sobressair a cor dos teus olhos - enobrece Eduardo, que gosta de a ver sorrir e
pregar rasteiras ao infortúnio do destino.
- Fui de férias para as caraíbas
do nosso Norte - diz Lúcia brincando - Estive três semanas nas vindimas no
Douro. Hoje em dia temos que aproveitar todos os biscates.
- É verdade, esta maldita crise
afecta sempre os mesmos. Vou andando.
- Até um dia destes, Sr. Doutor -
“Espero ver-te em breve” pensa para si.
Lúcia vislumbra-se com a silhueta
de Eduardo, a simplicidade e seriedade do seu Olhar fascina-a. Ama-o em
silêncio, na sua Vida não existem contos de fadas.
Tal como definido depois do
almoço foi até aos Jardins da Quinta das Lágrimas, precisava de harmonizar as
suas ideias para jamais desistir, e prosseguir.
Perambulou por entre árvores
centenárias, ruínas medievais e neogóticas, tanques e regatos, uma irrefutável
beleza assombrada pela tragédia que ali tinha ocorrido. O Amor tem duas faces,
a Tragédia é uma delas.
O calor das três da tarde estava
a fustigar o seu pensamento. Buscou uma sombra, e sentou-se no encaixe das
raízes extensas e vigorosas duma das árvores.
Retira da mala o portátil e
liga-o. Vai de imediato ao Email para ver se tem miraculosamente alguma
resposta ás suas candidaturas a ofertas de emprego.
- Outro dia sem sucesso - suspira
em voz alta.
Vai até ao Facebook para esquecer
temporariamente o Fado que o tem assistido. Eis que encontra online a Eva.
Ela já se tinha ali pendurado
fazia horas, clicava «likes», postava comentários, partilhava pensamentos de
elevar o Ego, transparecia Outra que não a Eva dos últimos dias.
- Olá Eva! Há quanto tempo. Nunca
te vejo por aqui. És o milagre do meu dia.
- Eduardo, preciso de Ti. Quando
nos podemos encontrar?
- Agora. Vem ter comigo a
Coimbra. Estou na Quinta das Lágrimas, e aqui permanecerei à tua espera.
Eva pega no blusão creme, nas
chaves do carro e na mala, paga a conta, e sai a passo rápido do café.
Eduardo...
Marlene Quintinha
Peço desculpas antecipadas pelo comentário que irei escrever. O nível do texto é bom mas no que diz respeito ao enredo, fica notório que foi escrito um pouco "à pressa" e houve alguma desatenção em relação aos episódios anteriores. No episódio 2, fica mais ou menos implícito que o Eduardo seria uma pessoa em missão em África. Um professor, um padre, um médico, um agrónomo....? Aqui surge-nos como um alegado assistente ou professor universitário (de latim!?) no desemprego!? Desculpem, mas parece que se perdeu alguma coerência de enrendo com estes pormenores.
ResponderEliminarPlenamente de acordo com o comentário anterior... no entanto, penso que o fascínio da escrita em conjunto reside no facto de tentarmos sempre "dar a volta" ao texto anterior. Aguardemos pelo seguinte...
ResponderEliminarPeço desculpa. É verdade, por motivos pessoais, não tive muito tempo para me dedicar afincadamente à minha parte. Li as outras duas partes, mas não me apercebi que o Eduardo seria alguém numa missão em África. Na minha vida aceito as criticas que me fazem, e com elas é que vou crescendo. Perante isto assumo que está na altura de abandonar esta aventura, as mudanças repentinas na minha vida tornaram-se pouco compatíveis com este projecto. Não queria de modo algum quebrar o enredo, e para que isso não volte a acontecer passarei a ser apenas uma leitora. Peço novamente desculpa, principalmente a quem escreveu as anteriores partes.
ResponderEliminarCumprimentos,
Marlene