10/10/13

Cidade das Dunas - Capítulo IX


- Depois da próxima rotunda, vire à direita - indicou Patrícia, num tom de voz que oscilava entre um nervosismo miudinho irritante, e uma ansiedade e medo inexplicáveis. – É … uma rua deserta, estreita … e íngreme … de sentido único! – Gaguejou.

Estavam finalmente prestes a sair da longa avenida que lhes parecia interminável. As dunas, ao fundo, cresciam grotescas à medida que o táxi onde seguiam, se aproximava do ponto de viragem. Pareciam querer barrar-lhes o caminho e aprisioná-los nos abismos das suas gargantas sem fundo.

- Que raiva! – Murmurava Vasco, impaciente, entre dentes. - Apanhamos os vermelhos todos! Nem de propósito!

 
Patrícia, inquieta, olhava regularmente o trânsito à sua volta, na tentativa de descobrir algum carro suspeito, pois a hipótese de estarem a ser seguidos, não estava totalmente posta de parte. O facto de terem saído pelas traseiras nada garantia que não pudessem ter sido vistos e que, por isso, estivessem em segurança.

E depois se alguém os perseguia, descobriria, por fim, a existência da filha que, ao que lhe parecia, ainda ninguém suspeitava, dado que Patrícia, meses antes, tinha tudo planeado para o momento em que o seu estado de grávida não desse mais para ser ocultado.

Assim, sob o pretexto de cuidar da mãe em estado crítico de uma doença incurável, pediu licença sem vencimento por tempo indeterminado e ausentou-se da cidade, para não mais ser vista até à altura certa de entrar de novo em cena.

Até àquele momento, Patrícia pensava que não dispunha de informações suficientemente relevantes sobre Duarte que fizessem dela um alvo a perseguir ou a abater. Até essa altura, Patrícia achava que Duarte ainda não se tinha envolvido a sério em negócios tortuosos e obscuros. No seu inocente entender, o espírito ambicioso, aventureiro e inconsequente de Duarte começava apenas a dar os primeiros passos, agora que se libertara dela, grávida.

Isto era o que pensava Patrícia, mas depressa Duarte deu-lhe a saber que as suas vidas corriam perigo, dada a sua envolvência com traficantes, lavagens de dinheiro e outras paradas ilícitas, por isso, Patrícia teria mesmo de sair da cidade, antes que fosse tarde demais. Ele, por sua vez, arranjaria o lugar certo para ela se ausentar, com a promessa de que no dia do nascimento da bebé, ele tentaria estar presente e sempre que pudesse, pois amava-as.

Assim a separação de ambos, apesar de dramática, acabou por ser vista como natural e os seus planos também à primeira vista pareciam ter resultado… até ao dia em que Duarte desapareceu e Patrícia se vê atirada para as malhas de uma imensa teia de perigos que desconhece, culminando com o aparecimento de Vasco.

Patrícia sentia-se vulnerável e frágil ao pensar em tudo isto. De repente, parecia que o mundo lhe tinha caído todo em cima. Envolvida num jogo duplo com Giuseppe, na tentativa de recolher o máximo de informação para descobrir o seu amor, acabava forçosamente por se envolver com o seu cunhado Vasco e por se ver ameaçada de morte por ambas as partes.

 

Chegados ao fim da rua estreita, viraram novamente à direita, passaram por cima de uma ponte, contornaram pequenas rotundas e percorreram ruas que se entrecruzavam, num verdadeiro labirinto que confundiu Vasco de tal forma que este voltou agarrar o braço de Patrícia, ameaçando-a de que se o estava a enganar ou a confundir, não sairia dali viva.

Finalmente, o táxi parou, por ordem de Patrícia, num bairro amistoso, de varandas floridas e portinholas de madeiras de um castanho-escuro que contrastava harmoniosamente com a brancura das fachadas das casas, todas elas duplex.

 
No parque em frente, Eliana brincava com outras crianças, na companhia de Celine, irmã de Patrícia.

Enquanto Patrícia apontava com o dedo a sobrinha que Vasco tanto ansiava conhecer, o telemóvel dela dá sinal de mensagem escrita.

Era Giuseppe.
Fátima Veloso

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