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É poeira a última vez
em que Theo entrou na Biblioteca, mas recorda-se nitidamente de todas, tem
memória ilimitada, por isso sabe de cor os títulos dos livros e o conteúdo
inteiro de todas as obras, nem um só segundo da universal criação se eclipsou
do seu conhecimento. Na Biblioteca guarda toda a História do Cosmos, uma quase
infinita coleção de livros, desde o instante em que escreveu a primeira palavra,
a milagrosa palavra com que inaugurou a primeira obra, à qual deu o nome de
BIG-BANG, e à segunda obra, FIAT LUX.
Entrar na Biblioteca é
a ação que mais custa a Theo e que muito o entristece, não pela dificuldade de
encontrar qualquer livro, apesar de nela estarem depositadas todas as
narrativas do Universo. A Biblioteca é um espaço inconcebível fora da mente de
Theo, inacessível a qualquer entidade pensante, pois é na sua mente que a
Biblioteca existe, e facilmente ele entra nela, facilmente abre o livro que o
chama com urgência, facilmente o manuseia e facilmente encontra o episódio que
lhe interessa, mas é sempre no presente da narrativa que age sobre o texto.
Interromper e alterar
o curso de uma obra é o ato que mais lhe custa; não por falta de criatividade,
pois, sendo autor de tudo o que existe no Cosmos, o grande livro que contém
todos os livros, cujo exemplo mais parecido é a Bíblia, é incontestável a sua
omnisciência de todos os processos narrativos. O que lhe entristece e magoa, se
um motivo infinitamente forte o obriga a entrar na Biblioteca, a fim de abrir
um livro e nele escrever, é o facto de as personagens dessa narrativa, por
causa do livre-arbítrio que lhes concedeu, protagonizarem ações que põem em
perigo a continuidade de um mundo cujo propósito é o Bem, princípio e fim
absolutos que presidem a toda a sua criação.
Às vezes arrepende-se
de ter criado o livro Terra, o único de todas as obras que o tem obrigado a
corrigir o desenvolvimento da ação. Muitas vezes se interroga em que momento preciso
e por que motivo se distraiu na conceção das personagens, a única explicação
para o facto de o Mal se ter revelado uma personagem invisível desde Caim, para
o caso de grande parte das personagens deste livro se aproveitarem do
livre-arbítrio para fugirem ao domínio do seu criador e revelarem fascínio pelo
Mal, obedecendo a este cegamente, como se o Mal fosse o deus do Paraíso.
A primeira vez que Theo
mexeu no livro Terra foi logo nos primeiros capítulos, quando se lhe tornou
evidente que o Mal se instalara na obra como personagem invisível, e então teve
de exercer a sua omnipotência autoral, não quis que o fim do livro fosse o caos,
o retorno ao Nada, resultado da extinção de todos os seres vivos. Por isso, com
o Dilúvio e com a Arca de Noé, acabou o primeiro Tomo e iniciou o segundo do
mesmo romance, para que as personagens, aprendendo a lição, percebessem que o
livre-arbítrio é a dádiva mais valiosa da vida, que não deve ser utilizado para
servir o Mal. Infelizmente, em outras ocasiões teve de agir, e novos tomos
foram engrossando o volumoso livro da saga Terra.
Agora, decorrido um
século desde a sua última intervenção, pondera se entra na Biblioteca, ou se,
desta vez, desiste da obra — se a melhor solução é abandonar os humanos ao seu
livre-arbítrio e permitir-lhes que percorram o caminho da autodestruição até ao
fim, até à última palavra do último Tomo do livro Terra, definitivamente uma
narrativa fechada e arquivada para sempre na Biblioteca.
Valerá a pena ajudar Laíssa,
Orionte, Thays, Myrio, Thyara e todas as personagens que combatem o Mal?
Valerá a pena encerrar
este Tomo do livro Terra e iniciar a escrita de um novo?
Ainda é possível
acontecer uma obra perfeita, sabendo que o Mal é a semente que germina em todos
os seres vivos da Terra?
Este é o dilema
angustioso de Theo.
António
Breda Carvalho
Muito bem, como cada autor consegue deixar neste conto a sua marca! :)
ResponderEliminar--
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Continuo a acompanhar este excelente trabalho.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
theo, deus, se existiu, arrependeu-se de criar a terra e o próprio homem. então, mas ele não sabia disso, antecipadamente? ele tudo sabe, ouve e vê, dizem.
ResponderEliminarvale a pena combater o mal, sempre, mas será o universo a fazê-lo e não theo.
saudações.
Este comentário foi removido pelo autor.
Eliminarjá somos dois, pelo menos, a pensar da mesma forma, Sílvio Afonso. somos muitos mais, felizmente, só k nem todos se revelam.
Eliminarqto a caçar-me um beijo, cuidado k eu chamo os policiais -rrsrs.
inteiramente de acordo. o mal é o início e o fim.
bom fim de semana, António Breda Carvalho.
Voltei para dizer que a
Eliminartemporada de caça está
aberta, portanto...
bjs.
.
O Antonio, muito bom o seu trabalho, e concordo sua interrogação, uma ves que o Mal está dominando o mundo. Parabéns pelo fechamento com chave de ouro!
ResponderEliminarAbraço!
Um registo diferente, mas não menos interessante.
ResponderEliminarBom fim-de-semana
Bem, que vale a pena combater o mal, disso não tenho dúvidas. Agora se é Deus (Theo) que o vai fazer, não sei...
ResponderEliminarGostei muito deste capítulo. Parabéns, António Breda!
Muito bom, Amigo. O mal existe, mas o "Bem" também. Interrogar-mo-nos, é missão de cada um.
ResponderEliminarGostei.
Abraço
SOL
Obrigado a todos.
ResponderEliminarO objetivo principal do meu texto é levantar questões, não dar respostas. Estas podem vir nos capítulos seguintes, se os seus autores assim o entenderem.
Este conto é um must.
ResponderEliminarCom contributos tão diferentes fica impossível não seguir com atenção.
Boa semana
A excelência da palavra continua viva neste capítulo.
ResponderEliminarParabéns ao autor.
Bom fim de semana, abraço.