11/05/18

Voar Sem Asas - Capítulo XIII

Frame do filme  "Metropolis"  - 1927
Caminharam calados, em passo cadenciado, para manter o ritmo... Faziam-no, sempre que possível, entre ervas altas, arvoredo, caminhos ladeados por abundante vegetação. Providenciava-se assim, uma certa segurança. À suave aragem do início da manhã sucedeu um calor tórrido. Aproveitaram para uma breve paragem, em que comeram alguma coisa, reviram mapas, reavaliaram possíveis estratégias. Seguiu-se-lhes um descanso merecido. Sempre que possível, antes do sono decidiam também, por um tempo de meditação, de reflexão.
Chegados, por fim á Grande Cidade!.. Com uma entrada guardada por altos muros de pedra, que Orionte tão bem conhecia. Aproximaram-se um pouco mais do portão, para que, de dentro, lhes fizessem o reconhecimento de imagem, através das câmaras ali instaladas, e lhes abrissem portas.
Então era ali, naquela fortaleza resguardada, que se moviam as Elites Governamentais e seus fiéis colaboradores... Pensava Laíssa.
Cumprido o primeiro obstáculo, sogro e nora propuseram-se calcorrear ruas menos movimentadas (de homens, obviamente) permitindo-lhes um certo à vontade para trocarem impressões.
O edifício principal era sumptuoso, rodeado de jardins bem cuidados, coloridos, com uma larga escadaria que os levou ao salão de entrada.
O olhar atento de ambos conduziu-os a um agente sentado a uma ampla secretária. Este, depois de os ouvir e identificar acompanhou-os ao elevador, não antes de lhes pôr nos casacos um cartão/ficha electrónico.
Saíram no piso indicado e surpreendidos depararam-se, de imediato, com Rafael fardado, formal, sério, que os aguardava. Não reconhecendo de imediato o "jovem rapaz"...
Rafael conduziu-os a uma sala aconchegante e luminosa, cheia de estantes e pastas. Fechou a porta e sentaram-se.
Laíssa e Rafael entreolharam-se algumas vezes, até que Rafael...
- Laíssa, estás muito bem disfarçada. Só te reconheci, pela expressão do teu olhar inconfundível. Por isso, não temas, não serás desmascarada...
Sorriram todos. Mais descontraído agora, o ambiente propiciou a conversa. Orionte e Laíssa, confiantes, expuseram seu plano de acção. Rafael, pela primeira vez, abriu-se-lhes em confidências, também. Para espanto de ambos. Laíssa confortável e mais apaziguada quis saber por Rafael, dos amigos e amores desaparecidos.
- Que aconteceu a Naldan, Sabras, Thays e Miryo, Laygar, Thyara e Iosef? 
- Foram embarcados na nave de reconhecimento que os sobrevoara no dia do desaparecimento. - Respondeu-lhe Rafael. - Estão agora em alas separadas, Thyara, Thays e Miryo, na ala feminina. Os homens numa ala própria…
Rafael informou-os que fora Eduína quem recebera Thays com Miryo e Thyara. Ela era a directora das alas femininas, localizadas num enorme edifício, vigiado do exterior, por soldados governamentais. Aqui se acomodavam as mães, que cumpriam todas as actividades domésticas, e crianças até á adolescência. Também mulheres férteis que, obrigatoriamente eram destinadas á procriação... Administravam-se aulas aos jovens. Logo, havia professoras... As restantes mulheres habitavam outra ala, mais afastada.
Os homens, funcionários do Governo, residiam para lá da ponte que atravessava o rio Auron, nesta altura de grande caudal. Em pequenos e confortáveis apartamentos. Os restantes, moradores em bairros, uns engrossavam as fileiras do exército, outros trabalhavam os campos, de grandes extensões, providenciando o sustento da comunidade. Toda a cidade era diariamente observada por câmaras ópticas e por "soldados vigilantes", além das naves...
Orionte tudo ouvia, cofiando a sua barba grisalha. Laíssa
não despegava os seus olhos de Rafael, bebendo-lhe cada palavra.
Em voz calma, Rafael soltou tudo quanto sabia sobre este burgo-mistério. Os seus visitantes, amigos, mereciam-lhe já toda a sua confiança. Eles, por sua vez, espantavam-se a cada novo relato de Rafael.
A promoção de Rafael fora importante para agilizar o processo. A nave agora posta ao seu serviço, iria ser-lhes de uma grande ajuda! Claro que Rafael não estava só. Seria impossível pensá-lo! Falou-lhes do movimento revolucionário que se vinha firmando há muito, compreendendo mulheres e homens. Além de Eduína, que se movimentava com razoável à vontade, no sector das Mulheres, quer das F.E. quer das M.C., contavam também com o grupo das professoras, das especialistas em artes defensivas, de orientadoras disciplinares... De homens apresentavam-se muitos dos que compunham as filas do exército, em postos graduados - não era de admirar pois que eram filhos e também pais de gente injustiçada! Um enorme grupo de ambos os géneros!
O plano indiscutível era derrubar o Centro nevrálgico do Poder instalado. Rafael cedo se apercebera das aberrações perpetradas pelos seus superiores. A irmã, Thays, era um exemplo disso... Assim, trabalhou capacidades de infiltração em lugares que importava conhecer, estudar, para tentar acabar com tanto descontentamento! Investiu, ao longo de anos, neste propósito, pedindo sempre aos companheiros, muito secretismo e moderação em conversas, em atitudes.
Laíssa ouviu tudo isto, e uma onda de paz, tranquilidade, tomou conta dela. Família e amigos estavam bem. Um sorriso sereno amenizou seu rosto agora transformado e um pouco grotesco. Olhou Orionte que ia questionando Rafael sobre detalhes que achava importantes.
Orionte e Laíssa abandonaram o edifício munidos de credenciais cedidas por Rafael. Com elas iriam mobilizar-se na grande cidade e mais além…
Já bastante afastados da zona de Serviços, pararam um instante. Laíssa e Orionte olharam-se sorrindo. Sem palavras, abraçaram-se felizes e comovidos. A revolta ganhava consistência!
Dava-se a partir de agora, início ao processo de mudança.
Para muitos, humilhados, o sonho tomava forma. Ganhava asas!...


                                                                                       Fernanda Simões

16 comentários:

  1. Já está na hora de acabar com estes ditadores. Muito bom, Fernanda. Beijinho.

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  2. Primeiro quero agradecer a visita ao meu canto.
    Adorei a história que está muito bem estruturada e me deixou em suspense.

    Um abraço

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  3. Continua muito boa a história! :) Bom fim de semana.
    --
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  4. e a história vai avançando, tal como os sorrisos de sogro e nora. saudações.

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  5. Vou acompanhar os próximos apeadeiros



















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  6. A caminho da liberdade de forma cativante.
    Estou a gostar muito.
    Bom fim-de-semana

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  7. Boa noite, Fernanda!

    Embora não vivamos na época do "parece mal", não me parece bem, de bom tom, responder a uns e a outros, não. De qualquer forma, a Fernanda Simões é quem sabe.

    Saudações.

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  8. Bom dia, e desculpem-me não ter ainda respondido a estes comentários. Estou com um problema , aqui. Veremos se já é possível... Lamento. Grata.

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  9. Mto grata a Céu, Mar Arável, Magui. A todos meu agradecimento pelo vosso carinho, É bom escrever. É também muito bom que gostem do que escrevemos. Bem hajam.

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  10. A continuação é excelente.
    Gostei imenso, Fernanda, parabéns pelo talento que as suas palavras revelam.
    Continuação de boa semana.
    Um abraço.

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