Quarta-feira. Ok Madalena, amanhã 22h na tua casa. Ansioso... hummm ;) Bjoo!
Quinta-feira. Eu sei bem quem tu
és!
nesta noite em
que não dormi absolutamente nada dando voltas e mais voltas virando e revirando
os pensamentos mais obscuros e tenebrosos quase confirmando todas as minhas
anteriores suspeitas sobre a condura extra conjugal do meu homem desde ontem por
uma fatalidade do Alex quando dele recebi na noite anterior uma sms que seguramente não me era destinada
para uma
Madalena que só pode ser a minha colega a Pimenta
ela as suas reacções e expressões
involuntariamente faciais e alguns estranhos e episódicos comportamentos
começaram a levantar as minhas suspeitas de que algo se poderia estar a passar
entre ambos sempre que lhe falava da minha vida familiar especialmente do
Alexandre o seu
olhar e a sua expressão a traíam tanto
secretismo em relação a mim na consulta do seu facebook no escritório tantos
gostos comuns entre ambos dizia ela intuição
feminina a minha
ele demasiadas noites ausente até tarde que
numa delas o palerma chegou às quatro da manhã cheirando a outro gel de
banho é mais fácil um homem safar-se
com o cheiro do perfume de outra mulher do que cheirar a um estranho gel de
duche não? tão distraídos que eles
são
vão encontrar-se
hoje pela noite a coberto de mais uma interminável reunião na distrital do partido porra que a crise é ameaçadora para eles e
as autárquicas ainda estão longe a quem
pensa ele que engana?
tenho de
manter-me impassível como uma máscara chinesa a minha aparente frieza e o meu formalismo
juntamente com a previsibilidade que me caracterizam dão-me uma excelente
cobertura para que não desconfiem de tudo aquilo que já sei sobre eles nada como um falso perfil do face para apurar alguns detalhes que uma
mulher interessada é capaz de tudo outra
coisa é ser-se interesseira
a Eva
primordial aquela que verdadeiramente sou poucos amigos a conhecem os que eu permito aqueles capazes de subir
os muitíssimos degraus até ao meu íntimo Alex percorre com facilidade esse caminho a nossa casa é o meu universo onírico em
que majestosamente me revelo em toda a plenitude brincalhona conversadora
sociável sedutora e terrivelmemnte doida por cama com Alex entre nós há muito que se desfizeram todo os
tabus onde tudo vale excepto a dor o
nosso deslumbramento por mais que tente não o imagino de outra forma nos limites por isso estou segura e magoada possessa e
compreensiva incoerente e trespassada
disfarçando o
melhor que pude as olheiras e o mau humor não me dando por vencida nem por
cornuda preparei-lhe esta manhã um especial e apetitoso pequeno-almoço com direito
a um fulgurante reforço que o fez sair de casa atabalhoadamente atrasado! já
sei que não o suficiente porque tesão não lhe falta para o testar para vêr até que ponto ele me
resistia ou até para averiguar até onde iria a sua mentira que logo à noite
chegaria muito tarde por causa de mais uma das suas cinzentas reuniões em que
de certeza não iria discutir o sexo dos anjos antes divagar sobre o sexo certamente
apimentado da Madalena
as ruas de
Mouzinho da Silveira e de S. João fazem-se a descer até à dos Mercadores como
nunca a pique em que eu pareço ora deslizar ora tropeçar na minha própria
sombra e nas divagações mais exasperadas depois de passar pelo escritório entregando
documentos importantes que não ia estar o dia todo não porque não me apetecesse
trabalhar mas porque tinha surgido um problema de resolução inadiável Dr. Ricardo compreendeu e envolto naquele
seu indisfarçável sorriso matreiro denunciador do fraquinho que nutre por mim me
mandou tratar dos meus assuntos num
vá tranquila Eva
faz um sol
tímido e as esplanadas da ribeira ainda estão desertas a esta hora que pouco
falta para as onze embrulhada ainda pelas sensações de há pouco num misto de
satisfação e de raiva o meu cérebro lateja-me no crânio com os gritos das
gaivotas olhando o cais de Gaia identifico ancorado o barco de cruzeiro que
durante três dias da semana passada nos levou por este rio acima atravessando
as inolvidáveis paisagens durienses simetricamente espelhadas na tranquilidade
do rio que o Alex fez questão de percorrermos
que amoroso quão romântico que ironia
dias de paz mal
sabendo eu o que me esperava melhor não
desconfiando eu o que agora acabo de confirmar que a minha intuição nunca falha
detesto ser
tomada por lorpa odeio a mentira tenho raiva à omissão premeditada só para me
protegerem
conheço muito
bem o meu marido que até foi o único com quem dormi os muitos namorados que povoaram a minha
vida anterior iam e vinham levavam uma ou mais quecas e saíam às tantas da
madrugada deixando-me os preservativos para deitar ao lixo e a cama vazia ele não ele nunca os usou nem me deixou a cama
deserta
veio uma noite
para ficar e até hoje permaneceu já lá vão uns muitos anos
por amá-lo
incondicionalmente aceito-lhe os defeitos sendo o pior deles o ser demasiado
bonito mais que inteligente todas as
mulheres o comem com os olhos e se porventura passa alguma que não o despe ele
fica como que humilhado e aborrecidamente amuado acha que todas lhe lambem os
pés ora isso verdadeiramente só eu sei fazê-lo e
ele sabe disso
acredito nos
amores e nas paixões simultâneas aceito como possível e verosímel que um homem
ou uma mulher me diga que está apaixonado por duas pessoas ninguém pode ter a ousadia de querer ou
sentir-se pleno para outrém seria o ser perfeito nem sequer estou a pensar no banal triângulo
homem mulher amante penso mais
adiante em que um ser se consegue validamente repartir mais ou menos igualmente
entre dois outros seres de sexos opostos ou não encontrando nas relações com
essas duas pessoas às vezes tão distintamente antagónicas complementos para a
sua alma para o seu corpo para a sua vida
não quero é
que isso aconteça com ele por ser o meu homem
eu sei que sou
possessiva e contraditória a
coerência que não me assiste é apanágio apenas das almas simples e me questiono
com ele provocando-o qual a mulher que não o é e ninguém gosta de partilhar o
seu homem com outra mulher
despejando o
pacote inteiro do açúcar este café me sabe muito amargo sinto
a garganta apertada e os olhos humedecem como se desvanece a neblina tardia as mãos trémulas puxam de mais um cigarro
em que nesta manhã eu me suspendo
apetece-me
chorar e neste tumultoso carrocel mental lembro o Eduardo um velho amigo de
Coimbra que conheci através da internet
mais novo que o Alex mais velho na amizade tomou-me nos seus braços uma certa
noite no meio de um desabafo e acoitou a minha tristeza na sua cama onde apenas
conversámos e chorámos juntos
ternamente apenas
os nossos corpos se tocaram
e se aqueceram
nessa cumplicidade imensa que agora me vem à memória o tanto tempo que nada sei
sobre ele nem da sua vida suponho que
deve estar a regressar de mais uma missão em África um dia destes mais cedo do que tarde vou falar-lhe
tenho saudades preciso da sua opinião e compreensão e sobretudo da sua
cumplicidade
entretanto que
faço eu no que resta até à penumbra da noite gelada?
não tenho
vontade de continuar este livro por agora uma revisita a cem anos de solidão apetece-me por aqui passar o resto do dia
talvez comer qualquer coisa que consiga engolir talvez encharcar-me em café
mantendo-me lúcida a lucidez é o que
mais me atormenta por antever os capítulos que se vão seguir talvez me perder de olhar absorto na
multidão que tarda em chegar
prostrada na
noite após um jantar em que falaremos de tudo menos do que interessa sempre quero
ver a tua cara Alex a tua expressão com amo-te quando te despedires de mim à
porta para a tal reunião serei frívola
implacável e será impossível para ti descortinares o que me vai na cabeça e na
alma
até porque já
lhe garanti que ontem não recebi qualquer mensagem sua merda nenhuma que a operadora
a deve ter extraviado fazendo-me de loira uma mentira piedosa claro! ele mais
oxigenado do que eu acreditou ingénuo
talvez me
pendure no facebook como fazem essas
minhas amiguinhas idiotas em busca de atenção protagonismo piedade sedução
emoção ou seja lá o que for enchendo muros de lindas florzinhas frases
bombásticas notícias incessantemente propaladas por todos fotografias de gosto kitsch musiquinhas pirosas ou
animaizinhos fofinhos que aquilo às vezes parece um jardim zoológico
e maltratando
a Poesia
talvez faça um
pouco de tudo isto e em todos ponha um like
ou um comentário mais arrojado que sou uma mulher absolutamente normal em busca
de renovadas emoções talvez algum
príncipe encantado surja através do meu monitor e eu faça de conta que acredito
que só tenha olhos para mim e me diga
e faça crer nas palavras bonitas que todas as mulheres gostam de ouvir que
certamente dirá e eu certamente fingirei que oiço
ou talvez
Eduardo...
José Manuel Barbosa
Parabéns aos 2 autores até ao momento
ResponderEliminarPaulo Emanuel
Alguém que eu conheço costuma dizer relativamente às mulheres, que ou são grandes ou não valem nada. Porque não há mulheres assim assim. Já muitas vezes manifestei a minha discordância mas agora, ao ler o início desta história, foi esta opinião que me veio à cabeça. Porque estas duas mulheres, cada uma à sua maneira, são grandes. Parabéns, Zé, foste grande a escrever este texto.
ResponderEliminarMuito bom o teu capítulo José Manuel Barbosa, uma escrita fluída, interessante, diferente e melhor ainda, a forme como expões os sentimentos e emoções de uma mulher. Louvável! Parabéns! Gostei!!!
ResponderEliminarFátima
Parabens, Zé gostei!!! O pior foi pores a mulher a amar "incondicionalmente" o marido infiel... foste mauzinho!!!espero que ela encontre ainda um ex namorado da faculdade, aí pelo Facebook... :))
ResponderEliminarInteressante o facto de entrar mais um personagem passível de exploração pelos próximos autores. Também apreciei as notas geográficas da Invicta e umas breves alusões ao conceito de poliamor! ;)
ResponderEliminarIsto é alguma maneira nova de escrever ou também faz parte do novo Acordo Ortográfico, escrever sem pontuação e começar a palavra no início do parágrafo com letra pequena? É pena porque o texto até podia ser interessante...
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