Duarte não tem um lado obscuro.
Duarte é obscuro! Com os outros! Calcula e ensaia gestos e passos e contabiliza
atitudes de acordo com o seu benefício. Na sua quase mística realidade
pastorícia ele sabe-se a si mesmo como sendo um homem gélido de personalidade
cínica. Para si!
Desde criança que se sabe
dissimulador e com facilidade leva a água ao seu moinho. Os seus enormes olhos
negros puxavam facilmente as lágrimas fazendo ceder o raspanete mais bravo ou o
castigo mais penoso. Fácil levar a mãe e as irmãs mais velhas. Menino de mimo e
beicinho, Duarte imediatamente esquecia o pranto depois da vontade feita.
Vasco, o seu irmão, não tinha a sua candura. Destemido e frontal representava, simultaneamente,
um rival e uma admiração invejável a seguir. No entanto Duarte não tinha um
lado direito e um lado esquerdo, uma razão e uma emoção. Duarte foi e é um
traço contínuo de quereres obstinados. Sem barreiras, sem sentimentos ou
arrependimentos. Esta sua forma escura de ser esbarrou com Patrícia. Não fazia
parte dos seus planos ser pai. Nem amar. Nem prender-se. Patrícia foi diferente
das outras mulheres pelo tempo de duração na cama. Mas como em todos os peões
que vão passando na sua vida, Duarte soube mais uma vez jogar a seu favor. Claro
que acompanhou a gravidez de Patrícia. Claro que olhou Eliane com os mesmos
olhos que costumavam adocicar a mãe e as irmãs. E claro que foi com o mesmo
gelo que deixou as duas!
Entre balidos e cheiro a hortelã,
Duarte puxou de um cigarro. Chegava de introspeção e regresso a um passado que
só assentava bem numa serra sem dono. Cinicamente imaginou o que se passaria do
outro lado do oceano. Com toda a certeza Patrícia já se teria mudado para a
casa da irmã e levado consigo a pequena Eliana. Duarte não podia esperar mais.
O tempo tem custos. Aliás, o tempo é o seu maior custo e com toda a certeza
Giuseppe já tinha ordenado a nova mercadoria.
Puxou de um último trago de
nicotina e ligou o telemóvel que trouxe consigo de reserva. Bateria intacta e
número desconhecido. Duarte está de volta. Do outro lado atende uma voz rude
com sotaque siciliano e se fosse possível de visualizar, um rosto arredondado
idêntico a uma pizza mozzarella! É Giuseppe. Ouve-se um «ciao amico» estridente
e quase submisso!
Duarte sorri e pergunta com voz
rouca: - Quando parto para Palermo? Já tens a mercadoria?
Giuseppe engasga-se e não sabe
bem como responder. Balbucia vocábulos incompreensíveis, de entre eles, Duarte
apenas percebe a noticia com que não estava a contar. No seu trajeto tão linear,
o irmão Vasco estava à sua procura no Brasil, como pedra no sapato que tem que
descalçar!
Estela Fonseca
Estou planejando uma viagem para a Argentina para visitar várias províncias lá. Eu amo as paisagens de suas cidades. Eu tenho a hospedagem, mas ainda falta em Buenos Aires. Você conhece algum aluguel apartamentos buenos aires? Obrigado
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