Foto © Fátima Ferreira |
Thays
quebrou o silêncio emocionado que se tinha instalado para dizer a Iosef que
descansasse e se recompusesse da pancada desferida por Laíssa, que mais tarde
falariam. Isto enquanto, ajudada por Laíssa, o desatava e o ajudava a pôr-se de
pé.
Encaminharam-se
para a casa de Laíssa, onde Iossef se deitou e quase de imediato adormeceu de
cansaço e emoção pelo que tinha passado.
Thays
fez sinal a Laíssa para saírem.
-
Laíssa, confias em Iosef? Que pensas de tudo isto?
-
Minha querida Thays, se Iosef me quisesse mal já o poderia ter feito há muito
tempo, mas guardou o meu segredo e calando-se ajudou meu pai a proteger-me.
Tenho a certeza que podemos confiar nele.
-
Sendo assim, amanhã vais ajudá-lo a escolher uma das casas para que se possa
tratar da mudança o quanto antes. Agora vou preparar algo para jantar e tu
vigia Iosef. Assegura-te que ele não ficou com sequelas da pancada.
Com
estas palavras, Thays dirigiu-se com Míryo para casa e Laíssa apressou-se a
voltar para a sua. Foi direita ao quarto e quedou-se a observar Iosef, que
dormia placidamente. Era moreno, com a barba de alguns dias, algumas rugas. Todo
o seu semblante transmitia confiança e tranquilidade.
Laíssa
sentiu que o seu coração se enchia de ternura por aquele gigante e que o seu
corpo se sentia irresistivelmente atraído por ele. Uma sensação estranha
subia-lhe pelo corpo, uma espécie de arrepios de calor e frio, e teve
pensamentos que a fizeram corar. Respirou fundo para se recompor e tocou-lhe na
testa para ver se tinha febre, estava fria, não resistiu e fez-lhe um carinho
na face. Ele mexeu-se no sono e Laíssa saiu imediatamente do quarto com receio
que ele acordasse e a visse tão vermelha.
Laíssa
decidiu ocupar o resto da tarde a fazer os exercícios da arte marcial de defesa
em que o pai a tinha iniciado desde pequena. Era algo que adorava fazer,
fazia-a sentir-se focada, concentrada e, acima de tudo, que seria capaz de se
defender em caso de ataque. Aliás, hoje tinha tido a prova disso com Iosef, que
tinha quase o dobro do seu tamanho e que ela tinha conseguido dominar.
Ao
por do sol, Thays veio chama-la para o jantar. As duas acordaram Iosef, que
estava completamente recomposto e esfomeado, e os três degustaram uma refeição
simples de peixe grelhado com ervas aromáticas, pão chato e legumes cozidos.
Thays
informou Iosef de que ele e a sua filha seriam muito bem-vindos ali. E quanto
mais rápido melhor, era necessário colocar Thyara a salvo num meio onde se
pudesse desenvolver livremente. Laíssa também lhe assegurou que era bem-vindo e
que a chegada de dois novos habitantes seria uma lufada de ar fresco para elas.
Descreveram-lhe o local em pormenor, ficando a promessa de que no dia seguinte
Laíssa o acompanharia numa visita guiada.
Com
esta ideia no pensamento, Iosef retirou-se para a casa de Laissa, tendo esta
ficado a dormir em casa de Thays.
Cada
um se deitou com pensamentos muito diferentes na cabeça. Laíssa com um
sentimento de felicidade, Iosef com um enorme alívio por saber que Thyara
estaria segura ali e Thays com receio do que a presença daquele estranho faria
no equilíbrio da diminuta comunidade.
Laíssa
acordou na manhã seguinte e imediatamente se dirigiu à sua casa, onde encontrou
Iosef já acordado e de volta do seu jardim. Que
homem magnifico! Pensou…
-
Bom dia Iosef, dormiste bem? Vamos ver a tua futura casa?
Iosef,
com um sorriso no rosto, imediatamente largou tudo, enfiou a camisola e saudou
Laíssa com alegria.
Começaram
a caminhar lado a lado e Laíssa disse:
-
Iosef, sempre estive convencida que me tinhas visto naquele dia, e foi por essa
razão que meu pai me trouxe para aqui.
Iosef
anuiu.
–
Sim, e já te tinha visto noutras alturas. Sempre tive um sentimento protetor em
relação a ti, Laíssa. Fui pai muito cedo e a mãe de Thyara morreu durante
parto… a minha doce e frágil Myella. Foram horas negras para mim, mas por amor
à minha filha fui forte e mantive-me são.
-
Onde conheceste a tua mulher Iosef? Sempre acreditei que era a única e tenho
vindo a descobrir que existem mais.
-
Laíssa, talvez Sabras tenha preferido manter-te na ignorância para teu bem, e
não me cabe a mim contar-te.
-
Iosef, por favor, diz-me!
Iosef
quedou-se pensativo durante alguns momentos e depois concordou.
-
Contar-te-ei tudo o que sei, depois de ver a minha futura casa. Pode ser, minha
doce Laíssa?
Laíssa
ao ouvir as palavras de Iossef sentiu um arrepio de antecipação percorrer-lhe o
corpo. Primeiro por ir saber mais sobre o mistério que a atormentava e em
segundo lugar por ele a ter tratado por “doce Laíssa”.
Guiou-o
à casa abandonada. Esta estava um pouco decrépita, mas com um pouco de trabalho
Iosef estava certo de que ficaria em boas condições. Era a casa com maior
número de quartos, uma casa de família. Iosef estava feliz e já se imaginava ali
com a filha e quem sabe… com mais alguém ao seu lado.
-
Laíssa, aquilo que te vou contar é algo chocante, mas talvez seja altura de o
saberes: existem mais mulheres, sim! São conservadas em cativeiro pelas elites
para seu uso e conveniência. São haréns fechados e muito vigiados. Eu nasci num
desses locais, filho de um ancião e de Grya, a sua mulher principal. Cedo
reneguei aquela existência, ninguém deve ser escravo de ninguém. Myella também
era filha de um ancião. Moeda de troca que eu consegui salvar a tempo de evitar
um casamento forçado e a quem muito amei.
Fugimos
para Malpertuis e fomos felizes algum tempo, até que o universo entendeu levar
Myella e deixar-me só com Thyara. Durante muito tempo vivi só dedicado à minha
filha e sem grande esperança no futuro, mas, agora aqui, vejo renascer a
esperança e quem sabe o amor, minha doce Laíssa…
ResponderEliminara curiosidade trouxe-me aqui, atrás dos contos de fadas!!!
conto com mais um amigo :)
deixo votos de Páscoa feliz !
bom fim de semana
Angela
Na verdade conta com mais vários amigos, neste blog somos alguns :)
EliminarSeja bem vinda! Esperamos proporcionar-lhe bons momentos de leitura.
Boa Páscoa!
Saudações literárias
Continuo a acompanhar com interesse este "Voar sem asas" de que estou a gostar.
ResponderEliminarUma Santa e Boa Páscoa.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Bom texto! E interessante a maneira de compor com mais que um escritor seguindo a mesma trilha. Voar com asas é fácil, mas voar sem asas, somente prodígios!... Parabéns! E boa Páscoa! Abraços. Laerte.
ResponderEliminarHum... parece que o Iosef já andava de olho na Laíssa, será que ela vai corresponder? Ou terá outros planos para a sua vida?
ResponderEliminarCapítulo que deixa vários caminhos em aberto para o próximo escritor.
Parabéns, Joaquim!
Vim no voo , e fez -me voar enquanto lia o seu conto . Gostei mesmo muito !
ResponderEliminarFeliz Páscoa !
Obrigado, Manuela!
EliminarSeja bem vinda! Esperamos proporcionar-lhe bons momentos de leitura.
Boa Páscoa!
Saudações literárias
Super interessante. Gostei.
ResponderEliminarBoa Páscoa.
Olhar d'Ouro - bLoG
Olhar d'Ouro - fAcEbOOk
Votos de uma Santa e feliz Páscoa!
ResponderEliminarCom o meu abraço.
Olá!
ResponderEliminarSão tantas situações existentes no mundo espalhadas que mal sabemos de algumas...
Aqui, o conto nos mostra umas, mas, na certa, o que isntiga à leitura, além de ser muito bem escrita, é que tem um clima de suspense no ar que todos gostamos muito no que se refere a contos ou romances de um modo em geral.
Vamos aos próximos! O escritor saberá dar um desfecho favoável, na certa.
Seja muito feliz e abençoado nesta Páscoa junto aos seus amados!
Abraços fraternos de paz e bem
Atendendo o convite, cá estou, bem interessante e instigante o conto, deve ser bem prazeroso escrever um conto coletivo, onde cada um tem uma ideia . Parabéns pelo voo.
ResponderEliminarAbraço e Feliz Páscoa!
Voar, sem asas, em sonho,
ResponderEliminarÉ prazer que satisfaz.
Por muitas vezes disponho
Desse gozo que me apraz.
O teu Conto promete.
Santa e Feliz Páscoa
Beijo
SOL
Aceitei o convite e gostei do que aqui encontrei! Aproveito pra desejar linda Páscoa! bjs, chica
ResponderEliminarNarrativa muito interessante. Vim e li com muito prazer.
ResponderEliminarAguardo a continuação.
Bj
Agradeço a visita e comentário no meu blog. Gostei do texto; admiro a maneira de como escrevem. Soa muito bem. Feliz Páscoa.
ResponderEliminarAbraço, Jorge
Boa tarde a todos.
ResponderEliminarObrigado a todos pelas simpáticas palavras, mas o mérito é de quem me antecedeu, e certamente de quem vai continuar a história. É um prazer fazer parte deste grupo.
Abraço.
Joaquim
Gostei muito da narrativa, mas fico triste, porque sei, que infelizmente existem casos desses. Continue que tem alma para a escrita. Um abraço com carinho
ResponderEliminarVencerá o amor (a paixão?) as preocupações sociais? Sabê-lo-emos em breve pela pena de quem a seguir vier. Parabéns, Joaquim
ResponderEliminarCada vez mais intrigante, o conto.
ResponderEliminarAbraço
Continuo a achar fascinante esta continuidade, com uma narrativa apelativa e brilhante, ainda que necessariamente diferente em cada autor.
ResponderEliminarContinuação de boa semana, caros amigos.
Um abraço.
ResponderEliminarOlá, Joaquim Henriques
Imprimiu uma boa dinâmica ao conto.
Agora:
O que lhes reservará o futuro? Iosef e Laíssa juntos?
Aguardemos...
Abraço
Olinda